sábado, 31 de outubro de 2020

APRENDER É CUSTOSO

 



Existem entre nós alguns conceitos interessantes sobre a arte da educação e do aprender. Há os que acreditam que o modelo tradicional escolar professor/aluno está obsoleto – embora eles mesmos tenham sido adequadamente, e com sucesso, passado pelo processo sem danos para a sua existência e desemprenho profissional. Há os que pensam que o aluno/estudante tenha participação quase que integral em seu próprio aprendizado, não sendo necessária a participação ativa do professor/ensinador, somente quando uma intervenção se faça oportuna. Há os que desenvolvem métodos mais participativos dos alunos, e que sua formação seja realizada a partir de suas preferências pessoais ou aptidões para o trabalho ou carreira escolhida. E existem os que defendem uma completa inovação – ou invenção – de um método que ainda não exista, para eliminar o desinteresse do estudante e sua evasão da escola, porque esta não lhe oferece estímulos para o aprendizado.

 

Embora algumas dessas ideias sejam bem interessantes e possam ser aplicadas em certos estágios do currículo escolar, em minha opinião, a maioria dos proponentes de uma “nova educação” se esquecem de algumas bases essenciais e fundamentais do aprender que, sem elas, é impossível uma educação adequada ser feita.

 

Primeiro: o professor/ensinador não é um mero mediador de conflito de interesses do aprendiz, mas o mediador, por sua experiência e maturidade, entre o conhecimento e o estudante. Ainda que o estudante tenha todos os meios e os conhecimentos para aprender sozinho (os autodidatas são raros ainda hoje), sempre haverá a necessidade de um professor para lhe orientar por qual caminho se deve percorrer. Seria altamente irracional imaginar de outra maneira.

 

Segundo: o conhecimento geral é imprescindível para igualar as chances entre todos os diferentes. Ora, como ninguém é igual ao outro e as personalidades e as reações são diferentes entre as pessoas, o conhecimento básico e geral das matérias primordiais são essenciais para todos. Mesmo numa prova de atletismo qualquer (uma alegoria para a vida), ainda que existam os mais aptos e melhores preparados ali, todos partem do mesmo lugar, e, ao final, todos vão cruzar a mesma linha de chegada.

 

Terceiro: aprender é doloroso. Todas as pessoas de meia idade ou mais velhas sabem que aprender tem custo. Afinar as ideias, aprender conceitos, decorar regras, fazer provas e teste de conhecimento, trabalhos para fixar o aprendizado, horas dedicadas à leitura e as tarefas de casa, múltiplas matérias para “queimar os neurônios ou as pestanas”, alimentar o pensamento histórico, filosófico, matemático e do vernáculo, aprender a se relacionar com o outro em trabalhos de grupo e aprender o bom comportamento em ambientes nos quais a pessoa não é o “centro do universo”, entre outras coisas. Aprender é incômodo, mas faz parte do jogo da vida.

 

Então, concluo dizendo que não é possível, em nome de uma “nova educação” remover as bases fundamentais nas quais a humanidade foi beneficiada extraordinariamente e nos fez chegar até aqui – claro que podia ser um pouco melhor, mas perfeição não está no cardápio. Podemos inovar, implementar novas técnicas e nos utilizar de toda a tecnologia disponível ao processo educacional, porém, deixar de lado o que deu absolutamente certo e colocar em seu lugar algo que não foi testado e comprovado pelo longo dos anos ou séculos é temerário. Quando se remove o que é bom ou excelente, põe-se o quê em seu lugar?

 

Portanto, vamos inovar – esta é a palavra de ordem – contudo, não sejamos ingratos com o legado secular que a educação tradicional nos outorgou e gerou mestres, gênios, cientistas, inventores, escritores, empreendedores globais e locais, aventureiros do planeta, filósofos, generais, estadistas, presidentes, astronautas, pesquisadores, médicos, enfermeiros, profissionais da saúde, arqueólogos, historiadores, pedagogos, e a lista é quase interminável. O esmagador sucesso da educação tradicional não pode ser eliminado por preferências de quem fez uma equivocada escolha ideológica, mas é fruto direto da mesma educação contra a qual se milita. Este tiro não “sai pela culatra”.

 

pacem vite!

 

Carlos Carvalho

Cientista Social. Outubro de 2020

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