Existem entre nós alguns conceitos interessantes sobre a
arte da educação e do aprender. Há os que acreditam que o modelo tradicional
escolar professor/aluno está obsoleto – embora eles mesmos tenham sido
adequadamente, e com sucesso, passado pelo processo sem danos para a sua
existência e desemprenho profissional. Há os que pensam que o aluno/estudante
tenha participação quase que integral em seu próprio aprendizado, não sendo
necessária a participação ativa do professor/ensinador, somente quando uma
intervenção se faça oportuna. Há os que desenvolvem métodos mais participativos
dos alunos, e que sua formação seja realizada a partir de suas preferências
pessoais ou aptidões para o trabalho ou carreira escolhida. E existem os que
defendem uma completa inovação – ou invenção – de um método que ainda não
exista, para eliminar o desinteresse do estudante e sua evasão da escola,
porque esta não lhe oferece estímulos para o aprendizado.
Embora algumas dessas ideias sejam bem interessantes e
possam ser aplicadas em certos estágios do currículo escolar, em minha opinião,
a maioria dos proponentes de uma “nova educação” se esquecem de algumas bases
essenciais e fundamentais do aprender que, sem elas, é impossível uma educação
adequada ser feita.
Primeiro: o professor/ensinador não é um mero mediador de
conflito de interesses do aprendiz, mas o mediador, por sua experiência e
maturidade, entre o conhecimento e o estudante. Ainda que o estudante tenha
todos os meios e os conhecimentos para aprender sozinho (os autodidatas são
raros ainda hoje), sempre haverá a necessidade de um professor para lhe
orientar por qual caminho se deve percorrer. Seria altamente irracional
imaginar de outra maneira.
Segundo: o conhecimento geral é imprescindível para igualar
as chances entre todos os diferentes. Ora, como ninguém é igual ao outro e as
personalidades e as reações são diferentes entre as pessoas, o conhecimento
básico e geral das matérias primordiais são essenciais para todos. Mesmo numa
prova de atletismo qualquer (uma alegoria para a vida), ainda que existam os
mais aptos e melhores preparados ali, todos partem do mesmo lugar, e, ao final,
todos vão cruzar a mesma linha de chegada.
Terceiro: aprender é doloroso. Todas as pessoas de meia
idade ou mais velhas sabem que aprender tem custo. Afinar as ideias, aprender
conceitos, decorar regras, fazer provas e teste de conhecimento, trabalhos para
fixar o aprendizado, horas dedicadas à leitura e as tarefas de casa, múltiplas
matérias para “queimar os neurônios ou as pestanas”, alimentar o pensamento
histórico, filosófico, matemático e do vernáculo, aprender a se relacionar com
o outro em trabalhos de grupo e aprender o bom comportamento em ambientes nos
quais a pessoa não é o “centro do universo”, entre outras coisas. Aprender é
incômodo, mas faz parte do jogo da vida.
Então, concluo dizendo que não é possível, em nome de uma
“nova educação” remover as bases fundamentais nas quais a humanidade foi
beneficiada extraordinariamente e nos fez chegar até aqui – claro que podia ser
um pouco melhor, mas perfeição não está no cardápio. Podemos inovar,
implementar novas técnicas e nos utilizar de toda a tecnologia disponível ao
processo educacional, porém, deixar de lado o que deu absolutamente certo e
colocar em seu lugar algo que não foi testado e comprovado pelo longo dos anos
ou séculos é temerário. Quando se remove o que é bom ou excelente, põe-se o quê
em seu lugar?
pacem vite!
Carlos Carvalho
Cientista Social. Outubro de 2020
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