É comum percebemos ao longo do
tempo, que, embora e de fato o significado das palavras se mantenham quase
incólumes, há acréscimos feitos de acordo com a época, que podem não apenas
prejudicar o entendimento delas, mas igualmente criar um falacioso senso comum
acadêmico que por fim, produzirá grotescas e amorfas formas de linguagem
tendenciosas e instigadoras de conflitos que antes não existiam. Tomemos por
exemplo o sufixo “fobia”.
Esta expressão, em qualquer
léxico grego (foboV), “phobos”, que é
de onde se extrai o sufixo fobia, tem o significado de: o que causa medo;
terror; pânico; susto; temor e reverência (no caso dos deuses da antiguidade).
Também: aquilo que espalha medo[1].
Ao direcionar nosso olhar ao português e aos nossos dicionários, claramente
percebemos a variação do sufixo com o passar do tempo.
O Pequeno Dicionário
Brasileiro da Língua Portuguesa Ilustrado, de 1973, definia fobia como
sufixo de designação genérica das diferentes espécies de medo mórbido[2]. O
Dicionário de Psicologia de Henri
Piéron, de 1976, trazia o entendimento que fobia é o medo mórbido de certos
objetos, certos atos ou certas situações e sintoma frequente da neurose de
obsessão [...][3]. Em 1981, a Enciclopédia de Psicologia Contemporânea,
de Lannoy Dorin, definia o sufixo como medo reprimido e transferido a objetos
ou situações que não podem provocar mal algum[4].
Em 1998, a Nova
Enciclopédia Barsa, descrevia, em meio as suas explicações sobre o termo,
que fobia é o temor irracional e incontrolável que alguém experimenta diante de
determinado objeto ou situação[5]. Com
o passar do tempo, chegamos aos anos 2000, e surgem variações importantes, não
que sejam positivas, da mesma expressão. O Dicionário
Eletrônico Houaiss, 2001-2009[6],
por exemplo, define fobia como o estado de angústia, impossível de ser
dominado, que se traduz por violenta reação de evitamento e que sobrevém de
modo relativamente persistente, quando certos objetos, tipos de objeto ou
situações se fazem presentes, imaginados ou mencionados. Isso no primeiro
significado.
Porém, na segunda definição, aparece mais duas explicações
antes não encontradas: falta de tolerância e aversão (Ex.: fobia de luz). E
assim, por todas as novas definições encontradas na internet deste sufixo,
iremos encontrar ou perceber que a partir deste ponto, a “falta de tolerância”
e a “aversão” se constituirão, para um falso senso comum acadêmico, o respaldo que
alguns buscavam para que textos, artigos, debates e demandas de militâncias,
como a dos LGBT’s e da atual ideologia de gênero encontrassem espaços de
discussão. Não que isso seja algo ruim em si mesmo, pois em certos níveis os
debates são necessários, porém, o resultado prático dessa alteração vai além de
semântica ou conceituação, chegando mesmo a violência e tentativas de imposição
de leis que ferem frontalmente direitos dos que são contrários À essa nova
interpretação do sufixo e aos temas levantados por ela.
O que se pretende com esse histórico? Demonstrar que o
significado de uma palavra pode variar ao longo do tempo, com um nível muito
pequeno de alteração, todavia, pode-se perceber que, por causas de aspectos não
linguísticos, não semânticos ou pela falta do concreto significado dela, é
possível fazer acréscimos que de fato não correspondem e nem se coadunam com a
própria palavra ou expressão, sem se ter a autorização lógica e racional que
esta mesma lhe conferiria.
Citemos como exemplo a palavra “homofobia”. Ela é definida
normalmente como: “etimologicamente medo do semelhante; do uso comum é a
aversão ou preconceito da homossexualidade”. Nota-se, levando em conta o
histórico do próprio sufixo, que a última sentença jamais poderia ser o seu
sentido real ou natural. Toda fobia está baseada no medo, portanto, ser
“homofóbico”, só pode ser interpretado como alguém que tem medo de seu
semelhante, não como aversão ou preconceito contra o mesmo sexo, tampouco,
pode-se dizer que alguém que não respeita ou aceita a prática da
homossexualidade seja homofóbico. É um simples exercício de leitura e
pensamento.
O pior de tudo isso não é o uso indevido feito do
substantivo e do sufixo – porque usá-lo desta forma não o legitima, é um erro
grotesco e consciente – mas o pior mesmo é dar a desculpa esfarrapada e com
aparência acadêmica, que esses acréscimos ao significado das palavras em nosso
vernáculo é fruto de uma “evolução da linguagem”. Essa é a coisa mais
aterradora e ignorante que temos lido e ouvido em todos os meios, na mídia mais
diversa, na escola e da universidade.
Ou estes proclamadores de falsos conceitos tornaram-se
extremamente e repentinamente obstruídos em suas mentes ou fazem consciente e
deliberadamente parte de um movimento ideológico com claro projeto de poder e
controle social. Das duas, uma!
[1] GINGRICH e DANKER. Léxico do N.T. Grego/Português. F.
Wilbur Gingrich e Frederick W. Danker; tradução Júlio Paulo Tavares Zabatiero.
– São Paulo: Vida Nova, 1984. p.219.
[6] Versão 3.0, Junho de 2009.
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