terça-feira, 9 de novembro de 2021

O problema do significado das palavras

 


 

É comum percebemos ao longo do tempo, que, embora e de fato o significado das palavras se mantenham quase incólumes, há acréscimos feitos de acordo com a época, que podem não apenas prejudicar o entendimento delas, mas igualmente criar um falacioso senso comum acadêmico que por fim, produzirá grotescas e amorfas formas de linguagem tendenciosas e instigadoras de conflitos que antes não existiam. Tomemos por exemplo o sufixo “fobia”.

Esta expressão, em qualquer léxico grego (foboV), “phobos”, que é de onde se extrai o sufixo fobia, tem o significado de: o que causa medo; terror; pânico; susto; temor e reverência (no caso dos deuses da antiguidade). Também: aquilo que espalha medo[1]. Ao direcionar nosso olhar ao português e aos nossos dicionários, claramente percebemos a variação do sufixo com o passar do tempo.

O Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa Ilustrado, de 1973, definia fobia como sufixo de designação genérica das diferentes espécies de medo mórbido[2]. O Dicionário de Psicologia de Henri Piéron, de 1976, trazia o entendimento que fobia é o medo mórbido de certos objetos, certos atos ou certas situações e sintoma frequente da neurose de obsessão [...][3]. Em 1981, a Enciclopédia de Psicologia Contemporânea, de Lannoy Dorin, definia o sufixo como medo reprimido e transferido a objetos ou situações que não podem provocar mal algum[4].

Em 1998, a Nova Enciclopédia Barsa, descrevia, em meio as suas explicações sobre o termo, que fobia é o temor irracional e incontrolável que alguém experimenta diante de determinado objeto ou situação[5]. Com o passar do tempo, chegamos aos anos 2000, e surgem variações importantes, não que sejam positivas, da mesma expressão. O Dicionário Eletrônico Houaiss, 2001-2009[6], por exemplo, define fobia como o estado de angústia, impossível de ser dominado, que se traduz por violenta reação de evitamento e que sobrevém de modo relativamente persistente, quando certos objetos, tipos de objeto ou situações se fazem presentes, imaginados ou mencionados. Isso no primeiro significado.

Porém, na segunda definição, aparece mais duas explicações antes não encontradas: falta de tolerância e aversão (Ex.: fobia de luz). E assim, por todas as novas definições encontradas na internet deste sufixo, iremos encontrar ou perceber que a partir deste ponto, a “falta de tolerância” e a “aversão” se constituirão, para um falso senso comum acadêmico, o respaldo que alguns buscavam para que textos, artigos, debates e demandas de militâncias, como a dos LGBT’s e da atual ideologia de gênero encontrassem espaços de discussão. Não que isso seja algo ruim em si mesmo, pois em certos níveis os debates são necessários, porém, o resultado prático dessa alteração vai além de semântica ou conceituação, chegando mesmo a violência e tentativas de imposição de leis que ferem frontalmente direitos dos que são contrários À essa nova interpretação do sufixo e aos temas levantados por ela.

O que se pretende com esse histórico? Demonstrar que o significado de uma palavra pode variar ao longo do tempo, com um nível muito pequeno de alteração, todavia, pode-se perceber que, por causas de aspectos não linguísticos, não semânticos ou pela falta do concreto significado dela, é possível fazer acréscimos que de fato não correspondem e nem se coadunam com a própria palavra ou expressão, sem se ter a autorização lógica e racional que esta mesma lhe conferiria.

Citemos como exemplo a palavra “homofobia”. Ela é definida normalmente como: “etimologicamente medo do semelhante; do uso comum é a aversão ou preconceito da homossexualidade”. Nota-se, levando em conta o histórico do próprio sufixo, que a última sentença jamais poderia ser o seu sentido real ou natural. Toda fobia está baseada no medo, portanto, ser “homofóbico”, só pode ser interpretado como alguém que tem medo de seu semelhante, não como aversão ou preconceito contra o mesmo sexo, tampouco, pode-se dizer que alguém que não respeita ou aceita a prática da homossexualidade seja homofóbico. É um simples exercício de leitura e pensamento.

O pior de tudo isso não é o uso indevido feito do substantivo e do sufixo – porque usá-lo desta forma não o legitima, é um erro grotesco e consciente – mas o pior mesmo é dar a desculpa esfarrapada e com aparência acadêmica, que esses acréscimos ao significado das palavras em nosso vernáculo é fruto de uma “evolução da linguagem”. Essa é a coisa mais aterradora e ignorante que temos lido e ouvido em todos os meios, na mídia mais diversa, na escola e da universidade.

Ou estes proclamadores de falsos conceitos tornaram-se extremamente e repentinamente obstruídos em suas mentes ou fazem consciente e deliberadamente parte de um movimento ideológico com claro projeto de poder e controle social. Das duas, uma!

 

 

Carlos Carvalho


[1] GINGRICH e DANKER. Léxico do N.T. Grego/Português. F. Wilbur Gingrich e Frederick W. Danker; tradução Júlio Paulo Tavares Zabatiero. – São Paulo: Vida Nova, 1984. p.219.

 Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento / Colin Brown, Lothar Coenen (orgs.); [tradução Gordon Chown]. – 2. ed. – São Paulo: Vida Nova, 2000. p.1265.

 STRONG. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong / James Strong, LL.D., S.T.D. – São Paulo: SBB, 2002. p.1747.

 [2] Volume 2, p. 560.

 [3] Volume 1, p. 184.

 [4] Volume 5, p.109.

 [5] Volume 6 da Macropédia, p.335.

[6] Versão 3.0, Junho de 2009.

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