sexta-feira, 26 de setembro de 2025

 

MINISTROS


SEM PUDOR

 

A Constituição Federal de 1988, ao estabelecer os limites de atuação dos Poderes, foi clara ao definir que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) devem se manifestar apenas nos autos dos processos. Isso decorre do princípio da imparcialidade, essencial à função jurisdicional. Quando um magistrado fala fora dos autos, seja em entrevistas ou pronunciamentos públicos, ele corre o risco de antecipar juízos, gerar insegurança jurídica e colocar em dúvida a neutralidade de sua decisão futura. Esse comportamento fere não apenas a letra da lei, mas a confiança da sociedade na Suprema Corte como última instância da Justiça brasileira.

 

Nos últimos cinco anos, o país tem assistido a uma sequência de episódios em que ministros do STF ultrapassam esse limite constitucional. Participações em eventos políticos, entrevistas concedidas a grandes veículos de comunicação e manifestações em redes sociais tornaram-se práticas recorrentes. Esses posicionamentos não apenas colocam em xeque a independência do Judiciário, mas também criam a percepção de que alguns ministros atuam como atores políticos. Esse quadro é agravado pela visibilidade midiática, que transforma magistrados em figuras de opinião, quando, por lei, deveriam ser apenas guardiões da Constituição.

 

A Lei Orgânica da Magistratura Nacional (LOMAN) também é categórica nesse aspecto. Em seu artigo 36, inciso III, está previsto que juízes não podem manifestar opinião sobre processos pendentes de julgamento, tampouco se envolver em atividade político-partidária. No entanto, declarações de ministros nos últimos anos têm ultrapassado essa barreira com frequência, trazendo repercussões diretas no ambiente institucional. O resultado é a politização da Suprema Corte, que deveria ser o refúgio da imparcialidade, mas se apresenta como uma arena de disputas narrativas. O efeito é devastador: diminui a confiança popular e aumenta a polarização.

 

A sociedade brasileira, que já enfrenta descrença em várias instituições, encontra no STF um campo de tensões que deveria ser inexistente. Ao falar fora dos autos, os ministros não apenas desrespeitam a Constituição e a LOMAN, mas também ferem o princípio republicano de separação dos Poderes. A postura de magistrados transformados em comentaristas de política fragiliza a democracia, pois mina a previsibilidade das decisões judiciais. É urgente recuperar a sobriedade e o recato exigidos do cargo, sob pena de o Supremo deixar de ser o guardião da Constituição para se tornar mais um agente do jogo político nacional.

 

 Por Carlos Carvalho

23 de setembro de 2025

Teólogo, Cientista Social e MBA em Jornalismo Digital.

 

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