sábado, 22 de agosto de 2020

A LÓGICA HUMANA E A MENTE DE DEUS

  

“Porque os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, e os caminhos de vocês não são os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os meus pensamentos são mais altos do que os pensamentos de vocês.” (Isaías 55:8,9)

 

É preciso iniciar declarando que a intenção do que escrevo não é justificar a Deus ou a de criar uma desculpa plausível e inteligente para o assunto que tratarei aqui. Deus não precisa de defesa, tampouco da minha empatia e compreensão em relação aos seus atos ou de sua inação. Dito isto, vamos ao problema.

 

Frequentemente os cristãos, os religiosos e os pseudocristãos (gnósticos) lidam com a ideia perigosa que perpassa entre o poder absoluto de Deus que tudo pode fazer (o ser Todo-Poderoso) e sua inação no mundo, demonstrando, na mente de alguns, um poder relativo, não total. Ele pode até ser Onisciente, mas não é, nesta perspectiva falha, poderosos para fazer o que desejar.

 

Isso se dá, a partir desta ótica distorcida, pela simplicidade do pensamento – que neste caso não é uma boa ação – onde se acredita que, se Deus, que é Todo-Poderoso, não “age” neste mundo quando as pessoas precisam, Ele não dispõe de todo o poder que revela ter. E, nesta mesma cosmovisão, se Ele age com o seu poder, não pode ser bondoso, pois, em suas ações, o Mal ainda permanece no mundo afligindo as pessoas. Conclui-se, ilogicamente, que ou Deus é uma coisa ou outra, mas as duas não pode ser.

 

Este é o típico pensamento negativamente binário de crianças quando os seus pais não lhes dão o que pedem, e por pensar que “necessitam” daquilo, passam a raciocinar que seus pais podem não ser tão bons quanto dizem ser ou quanto se fazem parecer ser. Neste caso, a ação que estas pessoas infantilizadas demonstram é a mesma. Por Deus não agir conforme os seus desejos pessoais – e por vezes egoístas – no momento em que acham que Ele deve agir, criam em suas mentes a ideia de que Ele não tem poder para agir ou que se tem, Ele não é Bom, pois não está atuando nas bases mentais humanas que racionalizam sobre o seu poder e sua bondade.

 

As mesmas mentes que criam esse imbróglio binário, são elas que desconsideram a sua própria incapacidade de compreender a mente divina. Deus não “age” de acordo com o nosso timing, não “age” na perspectiva de nossos pensamentos e nem nos momentos que determinamos que deveria agir. Estas mesmas mentes equivocadas esqueceram-se, propositalmente ou não, do principal fator determinante para a ação do Eterno neste mundo: a Sua vontade.

 

A vontade de Deus é quem determina o momento de sua ação. A vontade de Deus é quem dispara Seu timing. Isso na ótica teológica é chamado de “kairós”. Este “kairós” é o exato momento onde a eternidade, e, portanto, Sua vontade de agir e intervir se conecta com o “cronos”, o tempo no qual vivemos. É a vontade de Deus quem escolhe este ponto de intersecção. Por não compreenderem isto, as mentes humanas entram em crise num mundo onde mais veem coisas ruins acontecendo, sem, contudo, responsabilizar a si mesmas por grande parte do que ocorre. Preferem transferir infantilmente a “culpa” de tudo para Deus, pois é mais fácil lidar com isso.

 

Como Deus não se defende e nem precisa de defesa, Ele não age quando imaginamos – e isto não significa que não agirá – mas espera o momento oportuno dentro dos pressupostos estabelecidos em sua inalcançável mente divina. É precisamente por isso que Jesus nos ensinou a orar: “...seja feita a tua vontade, na terra como no céu”. O que determina a ação de Deus no mundo não é nossa necessidade ou nossa vontade, mas a vontade dEle. Isso não é uma desculpa, é um fato.

 

Carlos Carvalho

Shabbat, 22 de agosto de 2020

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