quinta-feira, 26 de novembro de 2020

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA - refletindo...


 

 

Este dia é celebrado desde 1960, mas foi instituído por lei em 10 de novembro de 2011 por Decreto de Lei n.12.519, pela Presidente Dilma Roussef. Ele marca a lembrança da morte de Zumbi, em 1615, e assinala um dia de reflexão acerca da inserção do negro na sociedade brasileira. Da mesma forma, remete à memória da resistência à escravidão do negro desde que chegou ao Brasil.

Importante ressaltar que a reflexão sobre o negro e a sociedade brasileira tem se dado num contexto bem plural. Há uma tentativa de se refazer os passos e a história até as raízes e matrizes africanas e ao mesmo tempo manter uma forma de religiosidade que não faz parte do cotidiano da maioria dos negros no Brasil hoje, tampouco dos africanos atuais.

concomitantemente, há uma ilusão ingênua de se criar em cada local de tradição religiosa “africana”, uma espécie de embaixada de outra nação, onde não se pode inferir nem legislar acerca de suas ações ou conteúdos. Ao se tentar tocar nos assuntos, logo se levantam acusações de preconceito, racismo e intolerância, da mesma maneira como ocorre com certas minorias militantes no país.

Outro dado a prestar atenção é que no último Censo (2010)[1], menos da metade da população brasileira se declarava branca (91 milhões) e os que se declaravam pardos (mestiços), negros, amarelas e indígenas, chegavam quase a 100 milhões de pessoas. Isso é ímpar, pois o nosso país não é de maioria branca. O mesmo estudo afirma que somente 15 milhões se declaravam negros, portanto, também, uma minoria. É simples concluir, pelos dados do IBGE, que somos um país majoritariamente mestiço.

Na questão religiosa, o mesmo Censo demonstra que entre os declarados negros (15 milhões), apenas 21% disseram ser de religião afro-brasileira, isso significa que no total geral dos habitantes (levando em consideração somente os dados oficiais), 0,3% da população brasileira participa dessas manifestações religiosas. Levando-nos a inferir que nem os próprios negros no Brasil aderem às religiões das suas matrizes originais.

Não há uma religião natural no Brasil, todas são importadas, da mesma forma que não existe uma cultura nacional, pois todas as que possuímos também são importadas. A cultura indígena talvez seja a única que se caracteriza como natural, mas mesmo esta, não se solidificou, obviamente por uma série de acontecimentos que lhe tolheu a própria existência, restando pouco em nossos dias a se preservar.

Portanto, de acordo com os dados da evolução populacional e a manifestação religiosa em nosso país, é certo concluir que em termos de religião ou cultura, tudo é mutável ou “migrável”, pois há uma enorme massa humana que vai se movendo entre as religiões com o passar do tempo. Religião e cultura no Brasil não são coisas de família e ancestralidade, mas de escolha pessoal. Isso deve ser respeitado e não se deve tentar impor modelos, mesmo que pela força da Lei.

Não devemos diferenciar negativamente as pessoas por causa da cor da sua pele ou de sua classe social. As diferenças sempre existirão entre as pessoas, mas é necessário que a regra áurea da humanidade seja o princípio norteador dos relacionamentos sociais. Tiago deixou escrito:

Se vós, contudo, cumprirdes a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, sem dúvida fazeis bem. Mas se vos deixais levar por distinção de pessoas, cometeis pecado, sendo condenados pela lei como transgressores.

Tiago 2:8-9

 

© Carlos Carvalho

Teólogo, Cientista Social, Escritor, Ciberjornalista, Blogueiro e Fundador da ONG ABAN Brasil

 Imagem: Pintura do artista alemão Johann Moritz Rugendas de negros jogando capoeira no Brasil. Disponível na internet.



[1]Censo Demográfico 2010: Características gerais da população, religião e pessoas com deficiência. http://loja.ibge.gov.br/censo-demografico-2010-caracteristicas-gerais-da-populac-o-religi-o-e-pessoas-com-deficiencia.html

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