Por Carlos Carvalho
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4 Ele, porém, respondendo, disse-lhes:
Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez, 5 E disse: Portanto, deixará o homem pai e
mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? 6 Assim não são mais dois, mas uma só
carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem. (Jesus, o Cristo em Mateus 19:4-6)
Antes de tratarmos do assunto principal, precisamos
fazer o exercício da exegese do texto levando em conta o seu contexto, para que
ele não seja de pronto rejeitado pelos especialistas.
Duas coisas são importantes aqui: o contexto e as
palavras utilizadas por Jesus. O contexto é claríssimo a qualquer leitor
superficial. Os fariseus tentando pegar Jesus em alguma contradição ou ensino
herético o interrogam com uma pergunta capciosa sobre o divórcio, e Jesus dá a
resposta a eles em três grandes sentenças. Elas estão narradas no texto bíblico
acima.
A segunda coisa importante são as palavras que o Senhor
usa para descrever os gêneros – arsen
para “macho”, theli para “fêmea”, anthropos para “homem” e gynaiki para “mulher”. Isto é profundamente
esclarecedor para os que pensam que Jesus jamais tenha feito declaração sobre
gênero e família nuclear nos Evangelhos. Penso que podemos prosseguir para o
que mais nos interessa que é a resposta tripla do Senhor. Ela nos apresenta o
pensamento de Jesus sobre os temas propostos.
Identidade de Gênero
Jesus fez uma declaração sem rodeios sobre o gênero
humano quando se referiu a macho e fêmea ao tratar da origem do relacionamento
entre um homem e uma mulher. Antes que ele respondesse aos seus inquiridores,
sobre se o divórcio seria legítimo em sua ótica, Jesus fez com que as pessoas
pensassem no livro do Gênesis. Lá está escrito que Deus criou dois gêneros
apenas (macho e fêmea) e ordenou que estes se relacionassem para cumprir o
propósito de dominar e povoar o planeta (Gênesis 1.26-28). Na mente de Jesus
não existe um terceiro gênero, a identidade de gênero é definida por sua
própria declaração levando em conta as origens no livro do Gênesis e Ele não precisaria
falar mais nada sobre o assunto, pois, as referências são precisas e nítidas.
Para Jesus Cristo, só existem dois gêneros humanos, homem/macho e mulher/fêmea.
Mesmo com diversas pesquisas já feitas ou em curso,
ainda não se pode determinar que outro gênero exista, por exemplo, a busca pelo
famoso “gene gay” não deu em nada e parece que jamais será encontrado segundo
especialistas em genética. Toda essa pesquisa
acontece porque se tenta afirmar que certos comportamentos sexuais não são
aprendidos ou escolhidos, mas herdados pelos genes dos seres humanos que os
carregam. Mas aqui vai uma dica bíblica: os comportamentos são herdados, sim.
Eles passam de pais para filhos por herança genética, sim, de acordo com as
Escrituras. Todos os pecados são transferidos, assim como são aprendidos ou
absorvidos culturalmente na humanidade. Assim está dito:
Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou
ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que vossos pais vos
legaram, (1 Pedro
1.18)
Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo
pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que
todos pecaram. (aos
romanos 5.12)
Família Nuclear
Ainda que em nossos dias muitos tenham ou veem de
famílias desestruturadas, parciais, monoparentais e outras, isso não significa
que o que vemos é a demonstração de modelos corretos ou válidos para uma
sociedade que deseja o bem estar de todos. Podem ser válidos para o direito
civil, e isto é aceitável para que os indivíduos não percam seus direitos
constitucionais ou suas garantias sociais, mas de longe, não diz nada acerca do
padrão divino para o ser humano ou para a família.
Quando Jesus diz que um homem deverá sair de sua casa
paterna e habitar com sua esposa em outro local para constituir uma nova
família, Ele já desmonta toda e qualquer alternativa válida para a família
nuclear que não seja a heteronormativa. Nos dias atuais fazer esta declaração
soa inconsistente, fundamentalista e preconceituosa, mas é exatamente isso que
a fala de Jesus descreve: uma família nuclear é uma família heteronormativa, ou
seja, entre um homem e uma mulher. Isto também não significa que deva ser
proibida a formação de outras famílias, mas que esta é a visão de Jesus (se Ele
for realmente importante para alguém), portanto, é a visão cristã e bíblica
para a família.
Aqui não está em questão a imposição de um modelo de
família nuclear, mas um convite a olhar o modelo que Jesus descreveu, na perspectiva
de nossa fé e considerar os benefícios para a sociedade que ele traz. Não se
deve deixar de dizer que existem famílias heteronormativas que internamente são
desestruturadas e que não cumprem o seu papel social e espiritual, mas não se
pode julgar casos isolados sem levar em conta o universo total das famílias
deste modelo em todo o mundo e por toda a História da humanidade.
Casamento
Os fariseus vieram com a historinha da carta do
divórcio como sendo algo bíblico, coisa da Lei e plausível para uma sociedade
pautada na ética de Deus. Jesus já lhes responde dizendo que Deus não criou o
divórcio, que Moisés permitiu (portanto não é um mandamento) por causa da
dureza dos corações dos homens e que separação deve ocorrer apenas por um
motivo: prostituição ou adultério de um dos companheiros. Na ótica de Deus, e,
portanto, de Jesus Cristo, a aliança do casamento só pode ser quebrada quando
um dos cônjuges deliberadamente atenta contra ela. É óbvio que esta declaração
se tornou um grande problema, tanto para a época, como principalmente para
hoje.
Na mente de Jesus, uma pessoa não pode contrair
matrimônio, entrar em um casamento, com a possibilidade da separação em sua
mente. Isso é inaceitável para Ele. O casamento deve ser considerado uma
instituição sagrada, um ambiente onde haja continuidade, um lugar onde duas
pessoas se conectam de tal forma com o passar do tempo, que o natural é
desejarem estar juntas até a morte e não outra coisa em mente. Porque vemos
tanta separação, divórcio entre as pessoas, nos filmes, nas novelas, entre os
atores e atrizes, entre as “celebridades”, entre os músicos(as) e cantores(as)
e hoje até entre os pastores? Porque tratam o casamento apenas como um acessório,
não como algo sagrado ou divino (Lucas 17:26,27).
Alguns poderão argumentar que não podem permanecer num
casamento violento, abusivo, machista, vicioso ou qualquer outro adjetivo que
se use e que devem buscar a sua própria felicidade. Respondo a isso assim: Primeiro
- ao invés das pessoas desejarem a qualquer custo “ter” alguém na vida, elas
deveriam esperar e escolher corretamente aquele ou aquela com quem querem viver
a vida a dois. Em outras palavras, não se deve casar por simples paixão (desejo
sexual), por não se ter alternativa para a felicidade pessoal, para se livrar
dos pais ou sair de casa, para conquistar segurança financeira ou para não se
prostituir. Deve se casar por uma escolha consciente de amor genuíno por alguém
e pela certeza que esse alguém lhe devota o mesmo sentimento, reconhecendo que
num casamento, não somente está envolvido sentimentos e desejos, mas muitos
outros detalhes ao longo da jornada.
E segundo – de fato ninguém é obrigado, nem por Deus,
a permanecer numa relação conjugal abusiva ou violenta, porém, aos cristãos (e
somente no caso dos que creem nas Escrituras), uma outra relação conjugal não
lhes é permitida quando a separação de corpos se der por motivos pessoais e não
de adultério, e, no caso de estarem casados com descrentes, a decisão da separação
nunca deve ser da pessoa que crê (1 Coríntios 7:10-16). Estando dispostos a
obedecerem a Deus e seus mandamento, tudo certo.
Pode parecer idealismo ou ilusão o que você acabou de ler,
mas pergunte a qualquer casal que não se uniu pelos motivos corretos o quanto
de problemas desnecessários eles têm de enfrentar todos os dias, e o pior,
transferem isso, mesmo sem querer, aos filhos. Já outros, não sabem esperar e
dentro de meses ou em poucos anos, já se separam e logo iniciam uma nova
jornada em busca da “felicidade”; pouco tempo depois dão de cara com os mesmos
problemas conjugais que tiveram antes, e o ciclo tende a continuar
E o porquê disso? Porque apenas seguem um ciclo cansativo
pela busca do ideal divino sem se darem conta de que não compreenderam os
princípios fundamentais de Deus para a própria vida e para o casamento.
Quando andamos em um nevoeiro denso em uma manhã fria,
inicialmente acessamos a estrada e sabemos que há um destino final, mas à
medida que mergulhamos na névoa percebemos que nem sequer o chão é visível e
não podemos saber se estamos indo na direção correta e precisamos parar
urgentemente até que a névoa se dissipe. Assim é essa busca humana pelo ideal
divino para a nossa felicidade e para a família, sem dar ouvidos ao que Deus
disse através de Jesus ou de sua Palavra escrita: andamos às cegas, e, nestas
condições, qualquer alternativa parece ser boa e maravilhosa, aceitável e
confortadora, mas isto não é a verdade, é a falta de se ver claramente por
causa da névoa. A fé cristã, o genuíno cristianismo, ou as palavras de Jesus
podem nos fazer enxergar direito e nos dar uma perspectiva adequada da vida e
do mundo mesmo se as densas nuvens ainda não se dissiparam.
Bibliografia:
Bíblia Sagrada. Versão Digital 5.5. João Ferreira de Almeida,
Corrigida e Fiel. Programado por Marcelo Ribeiro de Oliveira. 2005.
Novo testamento interlinear analítico Grego-Português
– texto majoritário com aparato crítico
/ por Paulo Sérgio Gomes e Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã, 2008.
Imagem: Cena do casamento entre Clark Kent
e Louis Lane na série de TV Smallville da Warner Bross, 10ª temporada, último DVD.
Imagem manipulada pelo programa PhotoScape.
Notas:
[i]
Carlos de Carvalho. Teólogo formado
pelo Seminário Teológico Batista Independente de São Paulo e pela Universidade Metodista
de São Paulo. Cientista Social pela mesma Universidade. Pós graduação MBA em
Jornalismo Digital pela Estácio de Sá, Especialização em Gestão de Inovação
pela USP/Veduca. Líder Sênior e fundador da Comunidade Batista Bíblica
Internacional.
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