quinta-feira, 22 de setembro de 2022

AS ESCRITURAS E A POLÍTICA




 

Não quero ater-me a questões de teoria política, geopolítica, partidarismos ou de conceituações modernas sobre a política propriamente dita. Quero simplificar a coisa, pois, acredito piamente que podemos ser profundos, mas igualmente simples (mas não simplórios).

 

Ouvi há alguns anos que a política é a gestão do contraditório, e, penso que esta frase é perfeita para descrever o fenômeno político no ser humano e nas sociedades. Também advogo a ideia de que todos fazemos política em certo sentido, e que, não podemos nos abster deste fato no dia a dia, seja nas conversas, nas opiniões ou nas tendências que adquirimos ao longo de nossa vida. Somos seres políticos, assim como somos seres sociais e seres religiosos. É o que somos.

 

Os cristãos ou conhecedores das Escrituras Bíblicas, frequentemente – principalmente em época eleitoral – deparam-se com as questões da fé e da política, da Igreja e do Estado. Via de regra, ou tenta-se justificar com várias manobras exegéticas a política hoje ou pela mesma leitura, demonizá-la ou proibi-la no seio da Igreja. Desejo tentar um outro caminho de abordagem, que me parece esquecido ou deliberadamente posto ao lado, por parte da maioria de nós.

 

Com exceção de partes da Torah, todos os textos das Escrituras foram construídos sob o sistema de governo monárquico, seja despótico ou imperial, seja sob monarquias mesmo. Portanto, de Juízes à Apocalipse (na ordem das Bíblias protestante e católica), todos os escritores bíblicos, incluindo os profetas da Antiga Aliança, viveram debaixo de um tipo de governo monárquico ou imperial. Aqui está o problema: até o Novo Testamento está debaixo desses sistemas, mesmo quando ele anuncia e prega um Reino divino no mundo dos homens, presente em suas mentes e corações, ou futuro, num milênio e novos céus e nova terra. O sistema de governo monárquico é o único sistema de governo da Bíblia. Nas Escrituras não existe democracia, pelo menos não como sistema de governo humano.

 

Ora, como cristãos e como pessoas que vivem no mundo nos últimos cinco séculos, fomos apresentados à Democracia, como um sistema de governo humano, senão o melhor, o menos pior, na perspectiva de quem o apresenta, contudo, esse sistema é claramente novo. Por isso é extremamente necessário fazermos separações conceituais e práticas, como homens e mulheres de fé. Isso porque, se as Escrituras não previam a Democracia, nós vivemos, no Ocidente principalmente, em regimes ditos democráticos, cada um com o seu estágio de maturação. Isto posto, as Escrituras como um todo, não proíbem a participação das pessoas de fé em cargos públicos ou em cargos políticos, ao contrário, é nitidamente percebido que qualquer pessoa pode e deve se inteirar ou participar da vida pública, se seu status social assim o permitir.

 

Ora, qual é a real distinção a ser feita? Enquanto crentes nas Escrituras inspiradas, sabemos que o único, benéfico, vindouro e perfeito sistema de governo projetado por Deus é a monarquia. Claro está que essa monarquia será exercida somente por um: O Messias. Isso será assim, pelo simples fato de que Ele é o Único Monarca perfeito de Deus para a humanidade, que a governará com justiça e equidade. Mas aqui estamos falando de profecias e promessas divinas, as realidades neste momento histórico são outras: vivemos em regimes ditatoriais, fundamentalistas ou democráticos.

 

E por causa desta realidade histórica, no nosso caso, no Ocidente, a Democracia é o que temos como sistema de governo de nossos povos. Com todos os defeitos, de fato é o menos pior, em se tratando dos seres humanos governarem-se a si mesmos. O que fazemos então, como pessoas de fé? Viveremos na esperança futura daquilo que o Eterno nos prometeu em seu Cristo, aguardando a perfeita Monarquia, e participamos normalmente e ativamente da vida em sociedade, pública e política que a Democracia nos permite e nos convoca. Sejamos cidadãos do Céu e da terra, mesmo sabendo que nossa “morada” aqui não é permanente. Porém, devemos nos aprofundar um pouquinho mais.

 

Em conclusão, como cidadãos do Céu e também da terra, porque não somos vocacionados para destruir as nações, mas para evangelizá-las, ao participar da vida pública e política com consciência, devemos ter o desejo de que a nossa influência seja concreta, até no sentido de propor leis e ações que beneficiem a população como um todo, e não somente a cristã. Se vamos participar da vida na sociedade, vamos como seres humanos que desejam o melhor para o seu próximo, não como religiosos ou partidários, que almejam somente o bem mesquinho de um grupo específico.

 

Quando na oração do Pai Nosso, o Senhor Jesus nos ensinou para pedirmos que o Reino de Deus venha para a terra e a vontade do Altíssimo seja feita aqui, assim como ela é perfeitamente realizada nos céus, Ele nos deixou um legado social e político também. Quando, como pessoas de fé, oramos, agimos, participamos e legislamos sob os princípios deste Reino espiritual, estamos fazendo o melhor que uma pessoa poderia fazer pelo seu próximo, porque a vontade de Deus é “boa, perfeita e agradável” (Aos romanos, 12:3). E se as autoridades (ou as funções de autoridade) são “de Deus” (ou têm a sua fonte e origem em Deus - Aos romanos, 13), os cargos e as funções, num mundo democrático podem ser exercidos também pelas pessoas de Deus.

 

 É certo que a vontade de Deus para os seres humanos é boa, perfeita e agradável – não as vontades equivocadas, distorcidas e falsas de pessoas que usurpam ou usurparam a vontade de Deus na História. Sendo assim, ao tentarmos influenciar as decisões executivas, legislativas ou judiciais, fundamentados nos princípios desta vontade divina que conhecemos previamente, não estamos tentando “impor” uma religião ou a vontade da “maior” força religiosa, mas, evidentemente desejamos, e deveria apenas ser desta maneira, o melhor dos mundos para todas as pessoas, pois, Deus quer o melhor para elas, independente de crerem nEle ou não (leia as palavras de Jesus em Lucas 6:35).

 

Aqueles que se dizem de nosso meio, todavia, pensam e agem diferente, não os defendemos, tampouco, os avalizamos. Não comungamos com os que se dizem cristãos, mas ofendem a moral e a ética divina expostas claramente nas Escrituras. Neste sentido, igualmente, não apoiamos partidos ou sistemas humanos transitórios, mas apoiamos e defendemos ideais e ideias superiores e virtuosas, como liberdade, justiça real, fraternidade, direitos humanos essenciais, prosperidade de todos, paz, segurança e o melhor bem-estar possível para todas as pessoas.

 

Carlos Carvalho, Prof., Bp.

#egv #casadesabedoria #avozdossabios #geraçãojosé #vocacionados #EscriturasSagradas #Bíblia #eleições #política #sistemas #governos #monarquia #democracia

Nenhum comentário:

Postar um comentário

VIDA TRANSFORMADA