Não quero ater-me a questões de teoria política,
geopolítica, partidarismos ou de conceituações modernas sobre a política
propriamente dita. Quero simplificar a coisa, pois, acredito piamente que
podemos ser profundos, mas igualmente simples (mas não simplórios).
Ouvi há alguns anos que a política é a gestão do
contraditório, e, penso que esta frase é perfeita para descrever o fenômeno
político no ser humano e nas sociedades. Também advogo a ideia de que todos fazemos
política em certo sentido, e que, não podemos nos abster deste fato no dia a
dia, seja nas conversas, nas opiniões ou nas tendências que adquirimos ao longo
de nossa vida. Somos seres políticos, assim como somos seres sociais e seres religiosos.
É o que somos.
Os cristãos ou conhecedores das Escrituras Bíblicas,
frequentemente – principalmente em época eleitoral – deparam-se com as questões
da fé e da política, da Igreja e do Estado. Via de regra, ou tenta-se
justificar com várias manobras exegéticas a política hoje ou pela mesma
leitura, demonizá-la ou proibi-la no seio da Igreja. Desejo tentar um outro
caminho de abordagem, que me parece esquecido ou deliberadamente posto ao lado,
por parte da maioria de nós.
Com exceção de partes da Torah, todos os textos das
Escrituras foram construídos sob o sistema de governo monárquico, seja
despótico ou imperial, seja sob monarquias mesmo. Portanto, de Juízes à
Apocalipse (na ordem das Bíblias protestante e católica), todos os escritores
bíblicos, incluindo os profetas da Antiga Aliança, viveram debaixo de um tipo
de governo monárquico ou imperial. Aqui está o problema: até o Novo Testamento
está debaixo desses sistemas, mesmo quando ele anuncia e prega um Reino divino
no mundo dos homens, presente em suas mentes e corações, ou futuro, num milênio
e novos céus e nova terra. O sistema de governo monárquico é o único sistema de
governo da Bíblia. Nas Escrituras não existe democracia, pelo menos não como
sistema de governo humano.
Ora, como cristãos e como pessoas que vivem no mundo nos
últimos cinco séculos, fomos apresentados à Democracia, como um sistema de
governo humano, senão o melhor, o menos pior, na perspectiva de quem o
apresenta, contudo, esse sistema é claramente novo. Por isso é extremamente
necessário fazermos separações conceituais e práticas, como homens e mulheres
de fé. Isso porque, se as Escrituras não previam a Democracia, nós vivemos, no
Ocidente principalmente, em regimes ditos democráticos, cada um com o seu estágio
de maturação. Isto posto, as Escrituras como um todo, não proíbem a
participação das pessoas de fé em cargos públicos ou em cargos políticos, ao
contrário, é nitidamente percebido que qualquer pessoa pode e deve se inteirar ou
participar da vida pública, se seu status
social assim o permitir.
Ora, qual é a real distinção a ser feita? Enquanto crentes
nas Escrituras inspiradas, sabemos que o único, benéfico, vindouro e perfeito
sistema de governo projetado por Deus é a monarquia. Claro está que essa
monarquia será exercida somente por um: O Messias. Isso será assim, pelo
simples fato de que Ele é o Único Monarca perfeito de Deus para a humanidade,
que a governará com justiça e equidade. Mas aqui estamos falando de profecias e
promessas divinas, as realidades neste momento histórico são outras: vivemos em
regimes ditatoriais, fundamentalistas ou democráticos.
E por causa desta realidade histórica, no nosso caso, no
Ocidente, a Democracia é o que temos como sistema de governo de nossos povos.
Com todos os defeitos, de fato é o menos pior, em se tratando dos seres humanos
governarem-se a si mesmos. O que fazemos então, como pessoas de fé? Viveremos
na esperança futura daquilo que o Eterno nos prometeu em seu Cristo, aguardando
a perfeita Monarquia, e participamos normalmente e ativamente da vida em
sociedade, pública e política que a Democracia nos permite e nos convoca.
Sejamos cidadãos do Céu e da terra, mesmo sabendo que nossa “morada” aqui não é
permanente. Porém, devemos nos aprofundar um pouquinho mais.
Em conclusão, como cidadãos do Céu e também da terra, porque
não somos vocacionados para destruir as nações, mas para evangelizá-las, ao
participar da vida pública e política com consciência, devemos ter o desejo de
que a nossa influência seja concreta, até no sentido de propor leis e ações que
beneficiem a população como um todo, e não somente a cristã. Se vamos
participar da vida na sociedade, vamos como seres humanos que desejam o melhor
para o seu próximo, não como religiosos ou partidários, que almejam somente o
bem mesquinho de um grupo específico.
Quando na oração do Pai Nosso, o Senhor Jesus nos ensinou
para pedirmos que o Reino de Deus venha para a terra e a vontade do Altíssimo
seja feita aqui, assim como ela é perfeitamente realizada nos céus, Ele nos
deixou um legado social e político também. Quando, como pessoas de fé, oramos,
agimos, participamos e legislamos sob os princípios deste Reino espiritual,
estamos fazendo o melhor que uma pessoa poderia fazer pelo seu próximo, porque
a vontade de Deus é “boa, perfeita e agradável” (Aos romanos, 12:3). E se as
autoridades (ou as funções de autoridade) são “de Deus” (ou têm a sua fonte e
origem em Deus - Aos romanos, 13), os cargos e as funções, num mundo
democrático podem ser exercidos também pelas pessoas de Deus.
É certo que a vontade
de Deus para os seres humanos é boa, perfeita e agradável – não as vontades
equivocadas, distorcidas e falsas de pessoas que usurpam ou usurparam a vontade
de Deus na História. Sendo assim, ao tentarmos influenciar as decisões
executivas, legislativas ou judiciais, fundamentados nos princípios desta
vontade divina que conhecemos previamente, não estamos tentando “impor” uma
religião ou a vontade da “maior” força religiosa, mas, evidentemente desejamos,
e deveria apenas ser desta maneira, o melhor dos mundos para todas as pessoas,
pois, Deus quer o melhor para elas, independente de crerem nEle ou não (leia as
palavras de Jesus em Lucas 6:35).
Aqueles que se dizem de nosso meio, todavia, pensam e agem
diferente, não os defendemos, tampouco, os avalizamos. Não comungamos com os
que se dizem cristãos, mas ofendem a moral e a ética divina expostas claramente
nas Escrituras. Neste sentido, igualmente, não apoiamos partidos ou sistemas humanos
transitórios, mas apoiamos e defendemos ideais e ideias superiores e virtuosas,
como liberdade, justiça real, fraternidade, direitos humanos essenciais,
prosperidade de todos, paz, segurança e o melhor bem-estar possível para todas
as pessoas.
Carlos Carvalho, Prof., Bp.
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