“Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali o
crucificaram, bem como aos malfeitores, um à sua direita, outro à sua esquerda.
Mas Jesus dizia: — Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. Então, para
repartir as roupas dele, lançaram sortes.” (Lucas 23:33,34)
Esta é talvez uma das maiores perguntas da humanidade
religiosa a ser feita. Diante de fatos como abuso dos Direitos Humanos, a
importância seletiva de vítimas e da supervalorização do vitimismo, precisamos
ser coerentes nas respostas às demandas socais de nossos dias.
A intenção não é perpetuar uma cultura de impunidade ou de
desvalorizar as vítimas reais de crimes ocorridos no solo brasileiro, mas olhar
com menos emoção – embora ela seja importante – certas circunstâncias, a fim de
não se tecer juízo de valor antecipado ou vaticinar com sádica alegria a
destruição (ou o atual “cancelamento”) do próximo, que também é alvo do amor e
da misericórdia do Eterno.
Com isso, quero afirmar que todo crime, por menor que seja,
furto, corrupção pelo crime de colarinho branco até o homicídio ou genocídio é
e devem ser punidos com todo o rigor da Lei, sem redução qualquer de pena, mas
com cumprimento integral dela. Dito isto, desejo passar a considerar alguns
aspectos de minha argumentação sobre o tema proposto, solicitando do(a)
leitor(a), que não deixe de ler todo o conteúdo antes de tirar suas conclusões
pessoais.
A vitimização seletiva ocorre quando as vítimas de quaisquer
crimes não são negras, gays, mulheres ou alguém de alguma “minoria”. Quando são
héteros, brancos, policiais ou ricos, os mesmos defensores dos Direitos Humanos
tratam com tremenda indiferença e silêncio os casos. Há um falso e pernicioso
entendimento de que estes últimos parecem ter “privilégios” acima dos demais, e
isso justifica torcer a Lei, para que ela apenas funcione seletivamente num um
grupo, não para todos. A máxima “Todos são iguais perante a Lei”[i],
não é uma realidade numa sociedade assim.
Em um país onde as questões de honra, de foro íntimo, de
convivência no lar e de família, de criação de filhos e do pátrio poder, de
quebra de relacionamentos, de cultura natural e social de um povo, de agressões
verbais e discussões, de gostos pessoais, de sexualidade, sedução e flerte, de
quebra de acordos comerciais e afins, não sendo tratados como questões de
juizado de pequenas causas e por acordos extrajudiciais em escritórios
advocatícios, mas transformado todas essas coisas em Leis Federais e/ou
Constitucionais, não é de admirar que haja tanta judicialização desnecessária e
tamanha seletividade nas vítimas.
Aqui entramos na nossa seara cristã. Homens e mulheres,
vocacionados ou não, mantendo e alimentados por este mesmo espirito legalista
(de Leis) e desta geração infantilizada, a despeito das claras orientações da
Escritura para o tratamento de casos que ela não considera um crime – mesmo que
a atual sociedade os considere – mas pecado pessoal contra outrem,
aparentemente com um ar de superioridade e santidade farisaica e demonstrando
quase que um prazer mórbido na denúncia pública e na destruição do próximo,
atentam espiritualmente contra Deus, seu perdão, restauração prometida e sua
misericórdia, sem sequer terem um mínimo de remorso ou tristeza.
Deus pune pecados, Deus julga pecados e ao final julgará a
todos, O Eterno é o único justo juiz. Somente Ele, o Altíssimo saber dosar a
pena e o perdão aos acusados pelos pecados contra o próximo, ainda que certos
pecados sejam crimes, nem todos os pecados deveriam ser punidos em tribunais
humanos. Isso só ocorre porque a Igreja deixou de cumprir seu papel na
disciplina de seus membros. As orientações escriturísticas são claras em
relação a estas coisas.
As desinteligências entre cristãos devem ser tratadas
pessoalmente, com duas ou três testemunhas ou pela comunidade de fé[ii].
As acusações contra a liderança devem ser devidamente apreciadas por outros
líderes maduros[iii].
Os pecados de ordem sexual devem ser julgados pela igreja internamente[iv].
Os casos de desacordo comercial entre os cristãos deveriam ser julgados também
pelo corpo da igreja[v].
Os cristãos desordeiros devem ser repreendidos pelos demais[vi].
Os preguiçosos não devem ser apoiados pela comunidade[vii].
As jovens viúvas devem ser estimuladas a se casar para não serem pesadas
financeiramente a ninguém[viii].
O perdão e a restauração dos arrependidos devem ser as máximas na relação
social cristã[ix].
E há muito mais escrito para a nossa correta e justa atuação com os demais
domésticos na fé[x].
Isso tudo para não falar dos ensinos mais contundentes de
Jesus Cristo no Sermão da Montanha e em outros locais, que nos ordena e obriga
a perdoar a qualquer tempo[xi].
Somos ordenados e ensinados na Nova Aliança a não exercer a vingança pessoal[xii]
e a suportar e tolerar os irmãos na fé[xiii].
A marca distintiva maior da fé cristã é o amor, mas não o amor racional,
emocional e carnal do mundo, mas o ágape, o amor perfeito que procede da
fonte eterna[xiv].
Isso é tudo aquilo que Nietzsche odiava na fé cristã[xv].
Como ele, todos os que até aqui odiaram o cristianismo e a fé cristã morreram desgraçadamente,
violentamente, solitários ou estão em grande esquecimento público. Deus e Jesus
Cristo permanecem incólumes em meio a todos os ataques que lhes fizeram por
toda a História da humanidade. Todos morrem, Jesus e o Pai continuam aqui.
Encerro este pequeno argumento com alguns textos de
advertência aos que, independentemente de sua matriz religiosa, alegram-se com
a queda de homens e mulheres verdadeiramente vocacionados pelo Altíssimo para
serem seus arautos nesta terra. Não são infalíveis, não são perfeitos, tampouco
inumanos ou anjos. São gente como a gente, que se cortar sai sangue e se
apertar dói. Também é preciso lembrar o título do argumento: De qual lado Jesus
está? Mesmo inocente, julgado pela inveja dos outros e condenado à pena capital
sem merecer de fato, Ele se manteve íntegro ao seu chamado, ao seu ensino e ao
seu amor, quando orou: “Perdoa-lhes”. Ao ladrão arrependido na cruz, no último
momento dele, ofereceu perdão e vida eterna[xvi].
Esse é o espirito cristão. Esse é o Espírito de Cristo[xvii].
Ele está do lado da vítima e pronto a oferecer perdão ao ofensor arrependido.
“E tenham compaixão de alguns que estão em dúvida; salvem
outros, arrebatando-os do fogo; quanto a outros, sejam também compassivos, mas
com temor, detestando até a roupa contaminada pela carne.” (Judas 1:22,23)
“Meus irmãos, se alguém entre vocês se desviar da verdade, e
alguém o converter, saibam que aquele que converte o pecador do seu caminho
errado salvará da morte a alma dele e cobrirá uma multidão de pecados.” (Tiago
5:19,20)
“Irmãos, se alguém for surpreendido em alguma falta, vocês,
que são espirituais, restaurem essa pessoa com espírito de brandura. E que cada
um tenha cuidado para que não seja também tentado. Levem as cargas uns dos
outros e, assim, estarão cumprindo a lei de Cristo.” (Gálatas 6:1,2)
“Ora, nós que somos fortes na fé temos de suportar as
debilidades dos fracos e não agradar a nós mesmos. Portanto, cada um de nós
agrade ao próximo no que é bom para edificação.
Porque também Cristo não agradou a si mesmo; pelo contrário,
como está escrito: ‘Os insultos dos que te insultavam caíram sobre mim.’” (Romanos
15:1-3)
“A fé que você tem, guarde-a para você mesmo diante de Deus.
Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que aprova.” (Romanos 14:22)
“Por isso, aquele que pensa estar em pé veja que não caia.”
(1 Coríntios 10:12)
Notas:
[i] Artigo 5º da Carta Magna
brasileira.
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