domingo, 17 de abril de 2022

Você já leu sobre o Teste dos Marshmallows?

 


 

O psicólogo Walter Mischel, na década de 1960, numa pré-escola da Universidade de Stanford, e envolvendo sobretudo filhos de professores universitários e de outros funcionários do campus, com idade de 4 anos, guiou um estudo e acompanhou as crianças até concluírem o período escolar básico. O teste consistia numa proposta: se eles conseguissem esperar o pesquisador voltar de uma determinada tarefa, ganhariam dois marshmallows de presente. Se não, ganhariam só um.

 

Algumas foram capazes de esperar o que certamente devem ter sido intermináveis 15 a 20 minutos até o pesquisador retornar. A fim de se aguentarem na luta contra o impulso, tapavam os olhos para evitar a tentação, ou metiam a cabeça entre os braços, conversavam consigo mesmas, cantavam, brincavam com as mãos e os pés, e até tentavam dormir. Esses valentes pré-escolares receberam a recompensa dos dois marshmallows. Mas outros, mais impulsivos, agarraram o seu único doce, quase sempre segundos depois de o pesquisador deixar a sala para ir cumprir sua “tarefa”.

 

O diagnóstico de como lidaram com esse momento de impulso tornou-se claro 12 a 14 anos depois, quando essas mesmas crianças foram observadas na adolescência. A diferença emocional e social entre os pré-escolares que agarraram o marshmallow e seus colegas que adiaram a satisfação era impressionante. Os que resistiram à tentação aos 4 anos eram, agora, adolescentes mais competentes socialmente: pessoalmente eficazes, autoassertivos e mais bem capacitados para enfrentar as frustrações da vida. Tinham menos probabilidade de desmontar-se, paralisar-se ou regredir sob tensão, ou ficarem abalados e desarvorados quando pressionados; aceitavam desafios e iam até o fim, em vez de desistir, mesmo diante de dificuldades; eram independentes e confiantes, confiáveis e firmes; e tomavam iniciativas e mergulhavam em projetos. E, mais de uma década depois, ainda podiam esperar um certo tempo para receber suas recompensas, enquanto perseguiam seus objetivos.

 

Aqueles que agarraram o marshmallow — cerca de um terço do grupo — tendiam a ter reduzidas essas qualidades e possuíam, ao contrário, um perfil psicológico relativamente mais problemático. Na adolescência, tinham mais probabilidade de serem considerados tímidos nos contatos sociais; de serem teimosos e indecisos; de perturbarem-se facilmente diante de frustrações; de julgarem-se “ruins” ou indignos; de regredirem ou ficarem imobilizados quando tensos; de serem desconfiados e ressentidos por “Não conseguir nada”; de tenderem ao ciúme e à inveja; de reagirem exageradamente a irritações com mau humor, desta forma provocando discussões e brigas. E, após todos aqueles anos, continuavam sendo incapazes de aguardar a recompensa.

 

O que aparece discretamente no início da vida desabrocha numa ampla gama de aptidões sociais e emocionais com o desenrolar dela. A capacidade de conter os impulsos está na raiz de uma pletora de esforços que vão desde manter uma dieta até lutar para a obtenção de um diploma em medicina. Algumas crianças, mesmo aos 4 anos, já dominaram o básico: conseguiram interpretar as circunstâncias sociais como uma situação em que o saber esperar é vantajoso, significa desconcentrar-se da tentação imediata e distrair-se enquanto mantêm a necessária perseverança para chegar ao objetivo — os dois marshmallows.

 

Mais surpreendente ainda: quando as crianças testadas foram de novo avaliadas ao concluírem o ginásio, as que tinham sido pacientes aos 4 anos eram muito superiores, como estudantes, do que as que haviam agido impulsivamente. Segundo relato dos pais, eram mais competentes em termos acadêmicos: mais capazes de pôr as ideias em palavras, usar e responder à razão, concentrar-se, fazer planos e segui-los até o fim, e mais ávidas por aprender. Mais espantoso ainda: contavam pontos sensacionalmente mais altos em seus testes de avaliação (SAT[1]). O terço de crianças que aos 4 anos agarraram mais avidamente o marshmallow tinha uma contagem verbal média de 524 e quantitativa (ou matemática) de 528; o terço que esperou por mais tempo tinha contagens médias de 610 e 652, respectivamente — uma diferença de 210 pontos na contagem total.

 

Aos 4 anos, o desempenho da criança nesse teste de adiamento da satisfação é duas vezes mais poderoso como previsão de quais vão ser suas contagens no SAT do que o QI nessa idade; o QI só se torna um previsor mais forte do que o SAT depois que as crianças aprendem a ler. Isso sugere que a capacidade de adiar a satisfação contribui muito para o potencial intelectual, inteiramente à parte do próprio QI. (Um fraco controle de impulso na infância é também um poderoso previsor de delinquência futura, também aqui mais que o QI).

 

Embora alguns afirmem que o QI não pode ser mudado e que, portanto, representa uma inflexível limitação do potencial de vida da criança, há amplos indícios de que aptidões emocionais como o controle de impulso e a interpretação de uma circunstância podem ser aprendidas. O que Walter Mischel, que fez o estudo, descreve com a expressão um tanto infeliz “autoimposto adiamento de satisfação com vistas a uma meta” é talvez a essência da autorregulação emocional: a capacidade de controlar um impulso para conseguir chegar a um objetivo, seja montar uma empresa, solucionar uma equação algébrica ou disputar a Copa Stanley[2]. As constatações dele acentuam o papel da inteligência emocional como uma capacidade de atingir metas, determinando como as pessoas podem empregar bem ou mal suas outras capacidades mentais.

 

Daniel Goleman, ph.D.

Inteligência Emocional


C.K. Carvalho
Escola de Gestão da Vida

[1] O exame visa avaliar o conhecimento e as habilidades de pensamento crítico dos alunos por meio de três áreas: matemática, leitura crítica (linguagem e interpretação de texto) e escrita.

 

[2] A Copa Stanley (Stanley Cup, em inglês; Coupe Stanley, em francês) é o troféu dado à equipe vencedora da NHL (National Hockey League), principal liga de hóquei no gelo do mundo

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