sexta-feira, 28 de agosto de 2020

QUAL É A REAL FONTE DO PROBLEMA DA VIOLÊNCIA HOJE?

 


E todo o Israel foi contado por genealogias, que estão escritas no livro dos reis de Israel; e os de Judá foram transportados a Babilônia, por causa da sua transgressão.

1 Crônicas 9.1

 

Sempre que tratamos dos assuntos de nossos dias, eventualmente nos referimos à violência exacerbada, à corrupção generalizada e às relações fragmentadas entre as pessoas. Estas três coisas se constituem, em nossa ótica quase distorcida, as fontes dos mais diversos problemas em nossa sociedade hoje.

Isto é fácil de se fazer pelo simples fato de que esses fenômenos se repetem à exaustão todos os dias, na vida real, nos canais de notícias e nas redes sociais. É perfeitamente compreensível que, alguém que continuamente vê tudo isso, imediatamente faça seus juízos de valor apontando estas causas como sendo as principais.

Todavia, o texto acima, retirado das Escrituras Sagradas, nos indica que as evidências que apontamos não de todo corretas. O que observamos diariamente não são as causas dos problemas, mas as consequências de uma fonte, e, portanto, de uma evidência, que está oculta em qualquer pesquisa acadêmica. Isso é assim, porque essa mesma evidência se desenrola no campo subjetivo mais precisamente.

Quando a nação descrita no texto foi levada ao cativeiro sob o império babilônico – e não precisamos produzir nenhuma “prova” para este fato, pois é histórico e concreto – as pessoas da época poderiam tecer as mais diversas teses e teorias sobre o porquê de ter acontecido com elas a destruição de sua terra e sua remoção de seus lares. Porém, ainda assim, qualquer que fosse o tema apresentado, ele não se sustentaria ao final, pois o motivo do acontecimento estava em outra esfera.

Por anos, profetas e líderes daquela nação proclamavam constantemente que ela havia se desviado de seu propósito original, de suas raízes espirituais, que muitos de seus governadores tinham deixado a Lei e os estatutos que lhes serviam de regras sociais, penais e civis e, de quebra, haviam deixado o monoteísmo crido pelos seus antepassados. Tudo isso somado à própria decisão pessoal de milhares de cidadãos em viverem uma vida desregrada e vil.

O resultado foi o desterro e o cativeiro. Não que estas ações tivessem sido orquestradas por Deus, como se Ele fosse o causador disso, mas eram as consequências mais comuns em uma época como aquela. Porém, a nação e o povo foram quase ininterruptamente avisados de que essas coisas poderiam acontecer. Suas decisões por transgredir, por não obedecer às regras e as leis, por abandonar a justiça, por escolher a violência, por criar o caos social, por abandonar o monoteísmo e abraçar o politeísmo, iriam fatalmente leva-los ao ponto de ruptura que foi gerado por suas escolhas e ações.

O real problema era a transgressão. E suas definições são simples: Desobediência, ir além dos termos ou limites, atravessar uma linha delimitada, não observar ou não respeitar as leis ou regulamentos, e infringir as normas. Isto é transgressão, simples assim. Quando transgredimos quebramos a ordem normal das coisas ou os limites que anteriormente nos trariam segurança. Transgredir é abandonar a segurança espiritual e social em nome de uma libertinagem e rebeldia pessoal travestidas de liberdade livre arbítrio.

Aqui está o ponto nevrálgico que não aparece nas pesquisas acadêmicas de campo. Aqui está a raiz daninha da vida em sociedade. Aqui está a matriz da destruição da ordem pública e criadora do caos que vivemos em nossos dias. Esta é evidência interna não pode ser mensurada e catalogada em dados: a transgressão.

Só existem duas maneiras de lidar com ela e solucioná-la, e não são coisas fáceis de fazer, pelo mesmo motivo que esta constitui-se evidência interna: porque as soluções partem de uma desconstrução e nova construção interior, ou seja, é preciso demolir os costumes e comportamentos aprendidos e reproduzidos pelas pessoas, ao passo que imediatamente se constrói um novo caráter e novo modelo de comportamento, por uma espécie de reprogramação mental. E também é necessário que concomitantemente a isso se produza uma conversão mental, nos moldes da conversão cristã, chamada de metanóia. Sobre isso falaremos em uma outra oportunidade, todavia, o que permanece são os fatos apresentados até aqui.

 

Carlos Carvalho

2 de junho de 2017.

sábado, 22 de agosto de 2020

A LÓGICA HUMANA E A MENTE DE DEUS

  

“Porque os meus pensamentos não são os pensamentos de vocês, e os caminhos de vocês não são os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos, e os meus pensamentos são mais altos do que os pensamentos de vocês.” (Isaías 55:8,9)

 

É preciso iniciar declarando que a intenção do que escrevo não é justificar a Deus ou a de criar uma desculpa plausível e inteligente para o assunto que tratarei aqui. Deus não precisa de defesa, tampouco da minha empatia e compreensão em relação aos seus atos ou de sua inação. Dito isto, vamos ao problema.

 

Frequentemente os cristãos, os religiosos e os pseudocristãos (gnósticos) lidam com a ideia perigosa que perpassa entre o poder absoluto de Deus que tudo pode fazer (o ser Todo-Poderoso) e sua inação no mundo, demonstrando, na mente de alguns, um poder relativo, não total. Ele pode até ser Onisciente, mas não é, nesta perspectiva falha, poderosos para fazer o que desejar.

 

Isso se dá, a partir desta ótica distorcida, pela simplicidade do pensamento – que neste caso não é uma boa ação – onde se acredita que, se Deus, que é Todo-Poderoso, não “age” neste mundo quando as pessoas precisam, Ele não dispõe de todo o poder que revela ter. E, nesta mesma cosmovisão, se Ele age com o seu poder, não pode ser bondoso, pois, em suas ações, o Mal ainda permanece no mundo afligindo as pessoas. Conclui-se, ilogicamente, que ou Deus é uma coisa ou outra, mas as duas não pode ser.

 

Este é o típico pensamento negativamente binário de crianças quando os seus pais não lhes dão o que pedem, e por pensar que “necessitam” daquilo, passam a raciocinar que seus pais podem não ser tão bons quanto dizem ser ou quanto se fazem parecer ser. Neste caso, a ação que estas pessoas infantilizadas demonstram é a mesma. Por Deus não agir conforme os seus desejos pessoais – e por vezes egoístas – no momento em que acham que Ele deve agir, criam em suas mentes a ideia de que Ele não tem poder para agir ou que se tem, Ele não é Bom, pois não está atuando nas bases mentais humanas que racionalizam sobre o seu poder e sua bondade.

 

As mesmas mentes que criam esse imbróglio binário, são elas que desconsideram a sua própria incapacidade de compreender a mente divina. Deus não “age” de acordo com o nosso timing, não “age” na perspectiva de nossos pensamentos e nem nos momentos que determinamos que deveria agir. Estas mesmas mentes equivocadas esqueceram-se, propositalmente ou não, do principal fator determinante para a ação do Eterno neste mundo: a Sua vontade.

 

A vontade de Deus é quem determina o momento de sua ação. A vontade de Deus é quem dispara Seu timing. Isso na ótica teológica é chamado de “kairós”. Este “kairós” é o exato momento onde a eternidade, e, portanto, Sua vontade de agir e intervir se conecta com o “cronos”, o tempo no qual vivemos. É a vontade de Deus quem escolhe este ponto de intersecção. Por não compreenderem isto, as mentes humanas entram em crise num mundo onde mais veem coisas ruins acontecendo, sem, contudo, responsabilizar a si mesmas por grande parte do que ocorre. Preferem transferir infantilmente a “culpa” de tudo para Deus, pois é mais fácil lidar com isso.

 

Como Deus não se defende e nem precisa de defesa, Ele não age quando imaginamos – e isto não significa que não agirá – mas espera o momento oportuno dentro dos pressupostos estabelecidos em sua inalcançável mente divina. É precisamente por isso que Jesus nos ensinou a orar: “...seja feita a tua vontade, na terra como no céu”. O que determina a ação de Deus no mundo não é nossa necessidade ou nossa vontade, mas a vontade dEle. Isso não é uma desculpa, é um fato.

 

Carlos Carvalho

Shabbat, 22 de agosto de 2020

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

A FÓRMULA DA DESTRUIÇÃO DE QUALQUER UM

 


“Israel esteve por muito tempo sem o verdadeiro Deus, sem sacerdote que o ensinasse e sem Lei.”

2 Crônicas 15:3

 

É grave e sério, mas verdadeiro. Esta é a receita para a destruição a médio e longo prazo na existência de qualquer pessoa, cidade ou nação. O texto é antigo, porém, as verdades nele, incontestáveis em qualquer época. A tríplice sustentação espiritual programada pelo Eterno jamais poderia ser quebrada, quando fazemos isso, os resultados são danosos e altamente destrutivos.

 

SEM O VERDADEIRO DEUS. Indica duas coisas: que existem os falsos deuses, e certamente enganam os que não reconhecem o verdadeiro, e que esta deveria ser a principal preocupação de qualquer um(a), saber se tem em sua vida essa premissa.

 

SEM SACERDOTE QUE ENSINE. Um povo sem líderes verdadeiros, sem pastores vocacionados por Deus e sem mestres responsáveis que os ensine o caminho da Verdade e que lhes proclame a vontade do Altíssimo, está fadado ao fracasso no final.

 

SEM LEI. Muitos equivocadamente pensam que Liberdade é viver sem leis, sem regras ou sem freios morais. Libertinagem, licenciosidade, imoralidade, pecaminosidade, iniquidade e impiedade, não podem ser exaltadas numa sociedade que compreenda a verdadeira Liberdade.

 

No mesmo texto, encontramos a própria resposta do Eterno para a resolução desta situação negativa, e, após isso, tudo paulatinamente foi retornando ao caminho certo e próspero:

 

“...O Senhor está com vocês, enquanto vocês estão com ele. Se o buscarem, ele se deixará achar; mas, se o deixarem, ele também os deixará. [...] Mas quando, na sua angústia, eles voltaram ao Senhor, Deus de Israel, e o buscaram, foi por eles achado.”

2 Crônicas 15:2-4

 

Carlos Carvalho, Bp.

Sabbat, 26 de junho de 2020.

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

A PROSPERIDADE E O CRISTIANISMO

 


No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte o que puder, conforme tiver prosperado [...].

Paulo de Tarso

1 Coríntios 16:2

 

A sabedoria é um adorno na prosperidade e um refúgio na adversidade.

Aristóteles

 

É necessário colocar algumas coisas primeiramente em foco antes de nos ater ao propósito deste artigo. São necessárias algumas considerações preliminares.

Primeiro lugar, Deus não criou a pobreza ou projetou sua existência em nossas vidas. Assim como a morte, a iniquidade, a corrupção, os homicídios, a perversão sexual e todos os males morais que experimentamos na raça humana e a pobreza são resultados do pecado e da rebeldia do homem contra a vontade de Deus.

A questão da pobreza, assim como a dos outros males, são circunstâncias resultantes que são de nossa responsabilidade cuidar e mitigar pelo simples fato que fomos nós quem as geramos, direta ou indiretamente. Não é papel do Criador resolver esses males, mas do ser humano, pois o próprio homem destrói, abusa, mata, corrompe e escraviza o seu semelhante. A humanidade deve solucionar os problemas que ela causa a si mesma e não o Ser divino. Deus não descerá do céu para resolver as coisas que nós devemos resolver. Não se pode esperar algo assim.

Segundo lugar, a pobreza também é um estado mental induzido e consolidado na mente de certas pessoas pela maneira como foi registrado em seu consciente as definições sobre ela, pelo ambiente no qual cresceu e como foram ensinadas sobre o oposto da pobreza, quais sejam, a riqueza e a prosperidade pessoal. Muitos pensam, sem se dar conta, que ser rico não é algo bom, que é pecado ou coisa tão ruim que toda pessoa rica só pode ter cometido muitas falcatruas ou crimes para chegar onde está. Ainda que isso seja verdade em muitos casos, e principalmente nos últimos anos mais evidentes no Brasil, todavia não é uma regra em todos os casos. Uma mentira repetida e registrada ao longo dos anos na mente de alguém, torna-se uma verdade inquestionável no final.

Quando o apóstolo Paulo se referiu que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males e que muitos que buscam a riqueza se destroem no processo a ponto de perder a fé (1 Timóteo 6:10), ele não disse que ser rico é pecado, mas que amar o dinheiro e a riqueza acima de Deus ou deixar que o dinheiro seja o senhor de nossas vidas é o fator determinante de nossa destruição.

Porém, no mesmo capítulo, versículos à frente, ele disse a Timóteo que ordenasse “aos ricos deste mundo” que colocassem sua inteira confiança em Deus, que tudo nos proporciona ricamente para a nossa alegria, querendo dizer com isso, sem sombras de dúvidas, que alguns irmãos alcançaram a riqueza material no mundo, mas que não deveriam considerar isso mais importante do que a sua fé e confiança no Pai que abençoa a todos e devem usar sua riqueza, tanto para seu benefício, como para realizar boas obras e auxiliar os que precisam (1 Timóteo 6:17,18).

Terceiro lugar, Jesus referiu-se aos pobres de uma forma que ao lermos os textos, fica cristalinamente claro que, nem ele, nem os apóstolos estavam na mesma condição. Por exemplo, quando ele fez a declaração: “porque os pobres sempre os tendes convosco; mas a mim nem sempre me tendes.” (João 12:8), ele disse isso como uma forma de repreensão a Judas por causa do bálsamo caríssimo que uma Maria derramou sobre ele e que o discípulo desejava, sem ser verdade, que se fosse vendido para ser distribuído aos pobres. Está nítido aqui que haviam pessoas pobres e que outros estavam numa condição de poder auxilia-los.

Em outra ocasião, um homem riquíssimo veio até Jesus para perguntar sobre como alcançar de fato a vida eterna. Jesus lhe interroga sobre seu comportamento diante da lei moral de Deus e o jovem responde que está vivendo de acordo com ela desde a juventude. Então, o Senhor o leva ao ponto nevrálgico de sua fé: ele deveria abrir mão de toda a sua riqueza por amor a Deus e dá-la aos pobres. Mas o homem não estava disposto a fazer esse sacrifício, pois seu coração já possuía um dono: sua própria riqueza. Na sequência disso, Jesus declara que dificilmente um rico entrará no reino de Deus, que é mais fácil um camelo passar por uma agulha (linguagem proverbial para relatar uma impossibilidade) do que alguém que ama a riqueza e faz dela sua segurança, alcançar a vida eterna. Essa declaração foi chocante aos próprios discípulos. E tudo isso no mesmo texto (Lucas 18:18-30). Não há nenhuma indicação aqui, mesmo implícita, de que ser rico é um pecado e que ser pobre é um estado aceitável, há sim, um questionamento ao coração e à consciência de um homem que possui recursos, mas não está disposto a cumprir o desejo de Deus, por amor a Deus, em usar aquilo que possui corretamente.

Quarto lugar. Há o caso de Paulo, que é, no mínimo, interessante. Podemos ver nos extremos de algumas de suas palavras. Paulo nos diz que Jesus Cristo se “fez pobre” (2 Coríntios 8:9) para que fôssemos enriquecidos. Ele fez essa declaração no contexto do levantamento de uma oferta para os cristãos pobres da Judéia. Não está dito aqui o real motivo da pobreza que se abateu por lá, se a perseguição romana ou outra coisa, mas os cristãos que possuíam recursos tinham a responsabilidade de abençoar materialmente aqueles que estavam em necessidade a fim de que todos pudessem desfrutar das bênçãos do suprimento (2 Coríntios 8:1-15). Jesus se fez pobre para que fôssemos supridos com tudo o que precisamos para viver dignamente; foi um esvaziamento consciente de si mesmo para compartilhar o que possuía conosco, os que cremos. Uma pobreza que transfere riqueza não é a pobreza que vemos no mundo.

Paulo também diz que quando partiu para a missão de evangelizar os gentios, após o concílio de Jerusalém, ele foi ordenado pelos apóstolos e líderes de lá que não se esquecesse dos pobres, o que segundo ele mesmo, nunca deixou de fazer (Gálatas 2:1-10). Ora, a implicação é clara, Paulo não poderia estar na mesma condição dos pobres para que pudesse ajudá-los. São sempre citadas suas declarações acerca de suas necessidades enquanto estava realizando a obra de seu chamado (Filipenses 4), mas Paulo somente teve essas necessidades precisamente porque estava realizando a empreitada de viajar pelo mundo pregando o evangelho, isso custava caro naquele tempo, como custa caro fazer isso hoje. Era preciso que alguém ou alguma igreja lhe desse sustentáculo financeiro. Porém, ele mesmo tinha profissão, e em muitas ocasiões lançou mão dela para suprir as suas necessidades e a de seus companheiros (Atos 18:1-3 e 20:32-35).

Ditas estas coisas, passemos ao texto escolhido para o título deste escrito. Mais uma vez a coleta para os pobres da Judéia está em foco e os cristãos coríntios deveriam separar sua oferta no primeiro dia da semana de acordo com o que tivessem prosperado durante os dias anteriores. Não há como contradizer que é esperado que os crentes prosperem em algum nível para que possam ajudar os que precisam. Isso nem deveria ser considerado um ensino na igreja, mas deve ser algo normal no dia a dia das pessoas.

Quem não deseja melhorar sua condição de vida? Quem não deseja ter o suficiente para honrar todos os seus compromissos assumidos e dar uma vida digna à sua família? Desde a Antiga Aliança, de Calvino e Lutero os demais reformadores, puritanos e até Spurgeon, ouvimos e lemos que o trabalho e a prosperidade dos cristãos é algo importante, não somente para si mesmos, como para a própria realização da obra de Deus. Não há nada que desabone a nossa obtenção de prosperidade a não ser o uso indevido dela fora dos propósitos de Deus. Ser um cristão próspero não é pecado, ser egoísta, avarento, não contribuir para o sustento da igreja, para a expansão do Reino de Deus na terra e não ser generoso é que o é.

Uma das formas de enfrentarmos a pobreza não é fazer uma falsa distribuição de renda – onde se tira pela força da Lei ou de impostos o dinheiro dos que possuem a se dá aos que não possuem – isso não é a solução, aliás, isso é errado e injusto, pois não se pode punir alguém que trabalhou, estudou, empenhou grandes esforços pessoais para conquistar sua prosperidade e simplesmente tomar uma parte do fruto de seu trabalho árduo e dar a qualquer que nada fez para merecer isso. A solução inicial é mudar pela educação financeira a mente de uma pessoa, ensinando-lhe os caminhos possíveis para o seu desenvolvimento pessoal e sua ascensão material desde a infância.

Ensinar a poupar, não para os tempos difíceis, mas para desfrutar a vida, mostrar-lhe os benefícios do planejamento financeiro a curto e a longo prazo, proporcionar-lhe acesso aos conteúdos que realmente importam para que viva a vida mais digna possível na perspectiva financeira e material. Mostrar-lhe os malefícios de uma vida de vícios, gastos compulsivos, compras com cartão de crédito mau pensadas e de contínuo entretenimento e coisas semelhantes a essas, que são primordiais na educação financeira. Também incutir a consciência da importância dos estudos técnicos ou universitários e do aprimoramento contínuo profissional para se obter melhores colocações no mercado.

O ponto principal disso tudo é descontruir a identidade e a mentalidade de vítima que permeia o pensamento da maioria dos que estão na condição da pobreza. Liberte a mente de uma pessoa e todas as portas das possibilidades estarão diante dela. Tire dela a mentalidade de vítima dos outros, da sociedade ou do sistema, e ela se tornará o protagonista de sua história mais facilmente, sem depender das benesses do Estado ou da ajuda dos oportunistas.

Concluo dizendo que a mensagem central do Cristianismo não é a prosperidade pessoal de alguém ou de uma família, que não é a mensagem do desenvolvimento e aprimoramento humano por meio das leis, dos direitos ou da iluminação da mente pelo despertar do conhecimento e da educação, mas a mensagem central é a Teodicéia, ou seja, a história do relacionamento do Deus Criador com sua criação e com os homens para a redenção deles, que se concretizou e teve seu ápice no sacrifício de Jesus Cristo, para a transformação da natureza humana, com o fim de destruir o pecado e o mal a seu tempo e nos levar a um novo mundo que Ele construirá no final. Essa é a mensagem: toda a Escritura (1 Timóteo 2:3-6; 2 Timóteo 3:16,17; Apocalipse 21:1-4).

Portanto, pensar em prosperar na vida e em crescer materialmente é fator constituinte da própria humanidade. Deveria ser algo comum a todos os homens e mulheres sem barreiras ideológicas, religiosas ou de sistemas de governos que têm o propósito de inibir o seu crescimento pessoal. Isso não é uma mensagem cristã ou um tema de ensino para pregadores e mestres bíblicos, tampouco é um tema que deveria ser usado por enganadores e oportunistas disfarçados em líderes espirituais, mas é matéria da vida e deveria ser ministrada por cada pai e mãe, por cada professor ou professora e por cada um que tem o papel de guiar pessoas nesse plano de existência. Prosperidade não é uma teologia, é uma necessidade. Prosperidade não é um ensino, é uma atitude mental. Prosperar não é uma reparação social e histórica, mas uma intenção de vencer os obstáculos com todos os recursos disponíveis. Prosperidade não é algo a se temer ou rejeitar, mas um benefício oriundo da capacidade que brota da imagem e semelhança divinas que nos moldaram, mesmo quando ainda caídos. Prosperar é cumprir um papel de ser um ajudador daqueles que ainda não chegaram lá.

Só há uma forma concreta de auxiliar os pobres, você pode não gostar do que vou dizer, mas é não sendo um. Apenas uma pessoa que não é pobre pode de fato ajudar os que são, não para que eles se mantenham em sua pobreza, sempre dependentes, mas para que usem os recursos a serem disponibilizados com o intuito de não mais estarem nesta condição. Compartilho, para finalizar, o texto hebraico que deu origem à nossa ONG:

 

Pois nunca deixará de haver pobre na terra; pelo que te ordeno, dizendo: Livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado, e para o teu pobre na tua terra.

Deuteronômio 15:11

 

A pobreza é um resultado, uma consequência, é um estado mental, um produto do homem. Não é papel divino resolvê-la aqui. É nosso papel, é nossa responsabilidade. Não podemos fingir que ela não existe, ficar tentando encontrar os culpados não a soluciona, ninguém tem a opção de não se envolver, todos devem participar de sua mitigação. Prosperar é uma escolha, a pobreza é uma condição. O ato de prosperar é uma emancipação e um empoderamento de si mesmo, a pobreza é uma cultura de gueto. Toda e qualquer pessoa deste planeta tem em sua constituição a capacidade de se desenvolver e melhorar a sua vida, só é preciso o estímulo correto.

 

 

Calor Kleber Carvalho,

© Maio de 2018

terça-feira, 18 de agosto de 2020

O governante e o governado

 

Exigir virtude em um e não exigir em outro seria um absurdo. Se aquele que obedece faltam essas virtudes, como ele poderá bem obedecer? Se o que manda não é sóbrio nem justo, como poderá bem ordenar? Viciado e vadio, não cumprirá nenhum dos seus deveres. É claro, pois, que ambos devem possuir virtudes [..].

 

Aristóteles se utilizou destas palavras em relação a outro assunto, porém, penso que podemos transportá-las ao contexto do título.

 

C. Carvalho

#escoladepolitica #casadesabedoria

segunda-feira, 17 de agosto de 2020

A PASSIVIDADE CRISTÃ É UM CAMINHO PERIGOSO AO PRÓPRIO CRISTIANISMO

 

E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará.

Mateus 24:12

 

 

Esta é uma das palavras mais interessantes da Escritura a meu ver – iniquidade. Ela pode ser um verbo que significa dobrar, torcer, distorcer, perverter. Também pode significar ruína; pretende dar a ideia de perversidade e depravação. Não por acaso Jesus se utilizou dela para descrever o estado mental de uma gama de cristãos nos últimos dias.

Minha intenção aqui não é abordar a palavra em si, mas descrever o estado de muitos que, considerando-se cristãos, precisamente pelo torpor mental advindo desta situação global e generalizada na qual se vive hoje, esfriam sua fé, ou seja, tornam-se perigosamente passivos diante de todos os acontecimentos atuais.

Na esteira disso, coisas como: o politicamente correto, o marxismo socialista, a ideologia de gênero, o desconstrutivismo moral e familiar, o neoliberalismo econômico, a militância gayzista, a ascensão muçulmana radical, a violência crescente nas cidades, a corrupção política e empresarial, as guerras modernas, a cristofobia aberta e a massificação da promiscuidade sexual, bombardeando diariamente a vida das pessoas, fazem com que a esperança e a fé de muitos enfraqueçam, dando lugar a uma espécie de tolerância débil que chega a calar essas pessoas e faze-as aceitar passivamente tudo como sendo algo normal, e com o agravante de repetirem continuamente frases como: “Os tempos mudaram”, “as coisas não são mais feitas assim”, “não podemos ser tão radicais” e “esse conservadorismo é antiquado” e etc.

Essa tolerância débil e passiva compromete não somente pseudocristãos pós-modernos, como concomitantemente instituições e igrejas cristãs, outrora sérias e defensoras das verdades absolutas da Escritura e da fé, criando um verdadeiro exército de quase mortos-vivos no tocante à apologética, à dogmática, à suficiência e inerrância das Escrituras, e, por mais incrível que pareça, no que diz respeito à própria pessoa do Deus-Trino, incorrendo, estes, em blasfêmia – não consciente, espero – contra o Eterno, Absoluto, Amoroso, Justo e Todo-poderoso Criador.

Com um grupo gigantesco de gente assim, não é espantoso, que as agendas anticristãs se tornem cada vez mais evidentes e agressivas no mundo ocidental. Um povo que se chama de cristão ou pensa ser seguidor de Jesus Cristo, mas vive anestesiado em sua mente, obscurecido no entendimento, alimentado com leite estragado, pão endurecido, mel impuro e água turva, desfrutando hedonisticamente de seu sucesso e de sua prosperidade entre as quatro paredes dos templos e do lazer familiar que os afasta do verdadeiro culto a Deus, o resultado não poderia ser outro.

Esse tipo de cristão é perigosíssimo para o próprio Cristianismo, haja vista que suas vidas, em harmonia com o sistema mundano, afronta diretamente a Deus e a Cristo Jesus, o Senhor, removendo continuamente o lugar do senhorio de Deus e de Sua Palavra do seu viver diário. Esses são o joio que Jesus descreveu em uma parábola, que infelizmente ainda andarão lado a lado com os genuínos cristãos até o dia da separação final.

Há duas palavras finais que gostaria de transcrever aqui. A primeira se refere ao resultado final que este tipo de ambiente gerará e a segunda, é uma ordem que nos foi dada como aqueles que se tornaram filhos e filhas da luz:

 

[...] Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?

Lucas 18:8

 

e não vos associeis às obras infrutuosas das trevas, antes, porém, condenai-as; porque as coisas feitas por eles em oculto, até o dizê-las é vergonhoso. Mas todas estas coisas, sendo condenadas, se manifestam pela luz, pois tudo o que se manifesta é luz.

Efésios 5:11-13 (Grifo nosso)

 

Graça e paz a todos e todas que procuram servir a Cristo, o Senhor de todo o seu coração.

 

Carlos Carvalho

Novembro de 2017

© Todos os direitos reservados.

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

DA SERVIDÃO MODERNA

 Síntese crítica do vídeo “de la servitumbre moderna” de Jean-François Brient

 

É óbvio que a proposta de uma libertação deste sistema opressor que escraviza as vontades humanas e os fazem pensar que são livres é muito bem vinda. Foi o próprio Jesus quem nos disse que a “verdade nos libertará” (João 8.32,36), sendo Ele mesmo a expressão máxima desta verdade libertadora, sem a qual jamais haverá uma verdadeira revolução libertária da vontade humana,

O texto falado é facilmente percebido como o discurso socialista marxista (está bem evidente e comum em Sociólogos franceses), contra o capitalismo – sendo este o grande mal do mundo – que explora e aliena os “escravizados” modernos, fazendo-lhes apenas consumidores infelizes presos no círculo vicioso que o próprio sistema lhes impõe.

Os problemas sociais, a pobreza, a miséria, a desigualdade econômica entre as pessoas, os padrões errôneos de consumo e de alimentação, o lixo que se produz, a poluição, a destruição da natureza e do mundo animal para manter o consumo desenfreado do homem e da mulher (escravos) modernos também são apresentados como resultado deste capitalismo monstruoso.

O vídeo é uma clara releitura contemporânea dos textos: “O Capital” e do “Manifesto Comunista” de Marx e Engels e um pouco do moderno pensamento de “Tempos líquidos” de Zygmunt Bauman (que gosto muito). Não deixa de apresentar uma verdadeira crítica ao sistema econômico vigente, o capitalismo, ao consumismo que devora os recursos naturais do planeta, que destrói os biomas, que faz do trabalho uma verdadeira servidão moderna, à falsa liberdade, à idolatria ao novo deus, o dinheiro (Mamon) e dos resultados degradantes da vida humana no físico e na mente.É a vida na famosa “Matrix”, já conhecida da trilogia do cinema e do controle total do Anticristo no Apocalipse. Mas algumas questões precisam ser ponderadas:

 

1.   O que faremos com o capitalismo: o implodimos ou o quê? (A proposta é destruí-lo totalmente) E ainda, o que colocaríamos em seu lugar?

2.  É fato que o socialismo, o marxismo e o comunismo não são as respostas para o mundo, pois nos lugares onde foram ou estão implantados, os seres humanos são ainda mais escravos do sistema, alienados e sem liberdade, além de verificarmos as tragédias e genocídios que estes sistemas geraram ou geram.

3.   O terrorismo é uma luta pela emancipação humana? Alguém em sã consciência (ou de livre consciência) acreditaria nisso?

4.  Uma vez liberta a humanidade deste sistema escravagista, o que viria, o caos? Sem um mínimo de ordem a humanidade seria melhor do que a de hoje? É impossível viver num mundo de plenas liberdades e democracia plena sem que haja ordem, obrigações e deveres.

5.  O “projeto revolucionário” unido ao “projeto poético” se torna apenas uma mudança de linguagem, sem, contudo, provocar real transformação social e global.

6. A Democracia real – sem a parlamentar – jamais poderá ser a solução, pelo simples fato de que a vontade de todos nunca será igual e não poderá haver consensos em qualquer demanda popular, e, sem o consenso, dever-se-á aceitar o desejo da maioria, que sempre excluirá, ao final, o desejo dos outros.

7.  Por fim, é nos apresentada uma nova ideologia “libertária” e “revolucionária” somente em substituição das vigentes no mundo, nos mesmos moldes, que, todavia, não servirá ao propósito pretendido. É a substituição do mal vigente pelo mal proposto.

 

É preciso muito mais do que isso e é necessário que se inicie no coração e nas mentes das pessoas esta verdadeira libertação. O vídeo é magnífico, a discussão é extremamente pertinente, porém precisamos ir muito mais profundo no problema.

 

E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará

Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.

João 8:32, 36

 

 

© Carlos Carvalho, 2016. Todos os direitos reservados

Teólogo e Cientista Social. UMESP

 

De la servidumbre moderna - Jean-François Brient.  Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cQtl6j85Q6c&ab_channel=LetargoAcargo

O CÚMULO DA INSENSATEZ CRISTÃ

 Antes de mais nada, confesso: Já fui um insensato!

 

Em minha ótica, o cúmulo da insensatez, no ambiente cristão é: quando cristãos professos passam a defender princípios socialistas, esquerdistas e comunistas; quando o discurso político toma lugar da pregação e do ensino das Escrituras; quando usam a Escritura para a justificação de seus anseios de poder; quando passam a aplaudir ateus, satanistas e falsos cristãos; quando acreditam na destruição da propriedade alheia e no vandalismo como medidas aceitáveis; quando passam a sugerir o maior poder do Estado sobre as liberdades humanas e sobre o livre exercício da economia; quando aceitam com naturalidade a destruição da família nuclear e do casamento tradicional; quando consideram que os “influencers” ou “formadores de opinião” imorais e sem respeito são pessoas que devem ser ouvidas; quando acham razoável negar a autoridade da Escritura, sua inspiração e suas narrativas em nome de uma crítica falsa e maligna disfarçada de busca pela verdade; quando acreditam que as forças das trevas não operam mais no planeta e tudo se torna naturalmente natural; 


Quando acham que Deus pode ter se enganado ou não detém todo o poder que diz ter; quando se escondem ou omitem de dar sua opinião cristã-bíblica em nome do politicamente correto; quando racionalizam, relativizam ou minimizam as exigências das Escrituras em nome dos novos tempos e das novas relações sociais, quando também relativizam a santidade do corpo exigida por Deus nas Escrituras para acomodar os desvios sexuais, a imoralidade e os pecados libertinos tentando criar uma inclusão que o Eterno abomina e quando acham que toda essa turma, ao final, serão todos salvos, mesmo mantendo-se separados de Cristo Jesus.

 

Carlos Carvalho

2 de abril de 2020

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

PRINCÍPIOS ARISTOTÉLICOS

  

Quando lemos os textos que dispomos dos pensadores antigos, como Aristóteles, encontramos princípios de grande sabedoria, que são práticos e espetaculares. Claro, só podemos extrair princípios, pois, dependendo do local da escrita onde forem encontrados, seu contexto não serve mais aos nossos dias, como por exemplo, suas exposições sobre o amo e o escravo, o homem e a mulher, nos são bastante anacrônicos. Mas há uma riqueza para a reflexão em outras frases e pensamentos como veremos em nossas leituras.

 

Princípio Aristotélico I:

 

“Igualdade ou direito de governar cada um por sua vez seria funesta a ambos.”

 

Este princípio é interessante. Mesmo que desejemos uma Democracia e um Estado de Direitos pleno, isso não seria possível em uma cidade, estado ou país. Ocorreria um caos se cada pessoa, cada uma mesmo, tivesse seu desejo pessoal atendido ou que seu direito particular e vontade possuíssem força de lei. Parece óbvio isso, porém, na prática, muitos, na luta desenfreada por direitos, esquecem-se que só podemos viver harmoniosamente em uma sociedade se lidarmos com direitos generalizados e não particularizados. Ou se abre mão disso ou regredimos a um primitivismo violento.

 

C.K. Carvalho

#escoladepolitica

terça-feira, 11 de agosto de 2020

A Ação Social e o Cristão

 A AÇÃO SOCIAL E O CRISTÃO

 

1 Seja constante o amor fraternal.

2 Não se esqueçam da hospitalidade; foi praticando-a que, sem o saber alguns acolheram anjos.

3 Lembrem-se dos que estão na prisão, como se aprisionados com eles; dos que estão sendo maltratados, como se fossem vocês mesmos que o estivessem sofrendo no corpo.

4 O casamento deve ser honrado por todos; o leito conjugal, conservado puro; pois Deus julgará os imorais e os adúlteros.

5 Conservem-se livres do amor ao dinheiro e contentem-se com o que vocês têm, porque Deus mesmo disse: "Nunca o deixarei, nunca o abandonarei".

6 Podemos, pois, dizer com confiança: "O Senhor é o meu ajudador, não temerei. O que me podem fazer os homens? "

Carta aos hebreus 13:1-6

 

Ao observarem-se genericamente os aspetos das ações sociais em nossos dias, perceberemos com clareza que estas incidem basicamente em três áreas: a solidariedade (incluindo a distribuição de recursos financeiros em programas sociais governamentais), as minorias (que incluem indígenas, negros e as questões de gênero) e a luta contra a violência (incluindo nela, a defesa da mulher, da criança e dos excluídos).

Esses são os tipos de manifestações sociais mais vistos nas campanhas do Governo, das ONG’s especializadas e da militância em geral que trabalha nestes temas. Óbvio que existem outras temáticas, mas não causam o mesmo impacto social, político e por vezes marqueteiro de quem a batalha nessas frentes. Em todos esses movimentos há realidades legítimas a serem tratadas e ações concretas a serem implementadas, mesmo por força da Lei.

Embora essas agendas sejam importantes, elas não são as únicas que deveriam permear a mente dos cristãos. No texto escolhido aponto sete áreas de ação social que são ordenadas nas Escrituras para delas nos ocupar. Isto significa que para o genuíno cristão, as questões sociais são extremamente importantes, mas não são ditadas pela agenda criada na Academia, na sociedade ou na mídia. Nossas ações são ditadas pela agenda da Escritura com todas as suas particularidades.

Analisemos a seguir a agenda social do cristão revelada nas Escrituras Sagradas e ao final, iremos perceber que somos ordenados a ir além do óbvio, do midiático, do senso comum e do “urgente” que se apresenta todos os dias. As ações sociais cristãs são de longo prazo e voltadas não somente para auxiliar o indivíduo em sofrimento, como para transformar sua maneira de viver, levando-o a um nível que chamamos de verdadeira liberdade. Vamos a elas.

 

Amor Fraternal

Essa palavra se refere ao amor que vai além de declarações vazias faladas mecanicamente com o intuito de agradar ou tirar proveito de alguém. Esse amor não é somente um sentimento interior “platônico” que nada faz ou realiza em relação ao outro. Tampouco é o amor que erroneamente pode ser confundido com atração sexual entre as pessoas. O amor fraternal é a ação concreta na direção do alvo deste amor que pulsa dentro de uma pessoa em relação à outra. Amor fraternal nos leva a agir sem buscar recompensas ou gratidão dos que foram beneficiados por ele. É do amor fraternal a famosa frase: “quem ama cuida”, e isso vai além de um desejo particular ou de carências emocionais egoístas.

 

Hospitalidade

É certo que a maioria das pessoas não sabe que a hospitalidade seja uma questão social. Pensam diferente sobre esse assunto. Alguns não se imaginam sendo hospitaleiros num mundo perigoso como o de nossas grandes cidades nem a parentes, quanto mais a desconhecidos. Mas aqueles que, como eu, tiveram que abrir suas casas a pedidos de amigos de outras nações a pessoas que não conheciam e só vinham com a recomendação do outro, sabem o que a hospitalidade significa. Abrigar pessoas em trânsito, com os devidos cuidados e recomendações, em alguns casos pode se tornar uma experiência libertadora. Existem pessoas maravilhosas no mundo que nem imaginamos, elas parecem-se com “anjos”.

 

As Prisões

Para a população em geral a prisão é um lugar para depositar criminosos, gente perversa e os que rejeitaram a vida pacífica em sociedade. Não se importam com o que acontece por trás daqueles muros altos, porque nenhum dos seus está ali. Isso não é um convite a olhar um assassino cruel ou estuprador com “bons olhos”, mas um convite a valorizar a vida humana, mesmo que o criminoso não a tenha valorizado. Saber o estado dos presos e como será a sua reinserção na sociedade de forma produtiva e pacífica é de extrema importância. Trabalhar por melhores condições de se manter um prisioneiro em seus direitos básicos é ação social. Acredito que se fizéssemos o exercício mental de nos colocar no lugar de alguém preso, não importando o crime que cometeu, iriamos nos preocupar com o que acontece com eles, pois, pelo fato de não termos prisões perpétuas, eles voltarão às ruas e à nossa vizinhança. E depois?

 

A Violência

Os dados da violência no Brasil e no mundo são assustadores, é só acessar a internet e procurar pelos Mapas da Violência[1] dos últimos anos, eles estão disponíveis a qualquer pessoa. Violência contra a criança, contra a mulher, o idoso, contra gêneros, contra imigrantes, contra as minorias, contra raças, gerada pelas drogas, pelo álcool e tantos outros causadores dela, são noticiados diariamente nos telejornais, rádios e portais online. É impossível hoje, assistir um programa de notícias, sem que a violência seja retratada em algum nível. Se o número não sabido de pessoas de todas as idades que são maltratadas a cada dia, somados aos conhecidos fossem levados à corte, é possível que os tribunais não se ocupassem de mais nada por muitos e muitos anos, deixando de julgar quaisquer outros casos. Somos ordenados a nos mover em direção aos maltratados como se estivéssemos em seu lugar.

 

O Casamento

Outra coisa que não é alvo das ações sociais comuns: o casamento. Ao contrário disso, o casamento tem sido vituperado e desprezado cada vez mais, seja pelo número crescente de divórcios[2], seja pela mudança nos paradigmas que permitem que qualquer tipo de família seja constituída[3]. Não sou juiz ou parlamentar e também não atuo na defesa do casamento pós-moderno, mas tenho minhas opiniões formadas acerca desse assunto. Ainda hoje se sabe e se aprende que a família é a célula básica da sociedade, ninguém discute isso, apenas que as definições de família têm sido constantemente forçadas a mudanças de acordo com os desejos dessa atual geração de pessoas que perderam seu alicerce na família tradicional. Mudando o conceito de família, é claro que se altera o conceito de casamento, pois um forma o outro. Muitos estudiosos têm analisados os dados da violência, da violência familiar, das drogas e da criminalidade e, têm erroneamente em parte atribuído essas coisas à falta de educação, mas isso é uma conclusão parcial. É preciso ter a coragem de nadar contra a maré e contra o que chamo de senso comum acadêmico e dizer que a mudança à qual a família tradicional foi forçada nestes últimos tempos também é a causadora desses prejuízos sociais que analisamos e verificamos hoje. Isso é fato.

 

O Sexo

A intensa exposição sexual a qual a sociedade e as crianças estão submetidas no último século chega a ser doentia. As taras e os desvios sexuais nunca estiveram tão evidentes. Os crimes sexuais estão em vertiginosa ascensão[4]. Falar disso não é atentar contra a psicologia ou contra a liberdade das pessoas, nem tampouco manter tabus dos quais os cristãos e religiosos são continuamente acusados. O fato deve ser visto e percebido pelo próprio fato, ou seja, os crimes sexuais têm aumentado e os motivos não são apontados, por quê? Porque alguns sociólogos e psicólogos não querem se expor quando tiverem que mencionar as possíveis causas desses crimes, que vão além das doenças mentais. Existem doenças mentais incluídas nesses crimes, é óbvio, mas em minoria[5]. O meu desejo não é fomentar um puritanismo extremistas (que não aceita o prazer sexual como criação divina), todavia, permitir uma libertinagem sexual hedonista[6] sem limites é igualmente prejudicial. Muitos olham para Roma, Grécia e outras nações do passado e querem resgatar os comportamentos sexuais delas, mas se esquecem que estas não existem mais como no passado, e se não tivessem mudado, há muito teriam desaparecido. Precisamos nos empenhar para ter uma posição clara em relação às questões sexuais e defender essa posição, mesmo que pareça ultrapassado na mente de alguns.

 

Avareza

São fatos conhecidos por todos os que leem que o mundo capitalista (o Ocidente) passou por basicamente três grandes períodos de recessão e quebra de suas bases de sustentação que comumente foram chamados de “crises”: em 1929, nos anos 70 e em 2008[7]. Na busca dos motivos que geraram essas crises foram encontrados muitos fatores como, a questão do petróleo, as políticas internacionais estremecidas, importações e exportações desniveladas, preço do dólar, supervalorização dos bens e imóveis e até a extrema confiança nos sistemas capitalistas, mas raramente tocou-se no ponto nevrálgico das crises: a ganância de homens que detinham e detém o poder sobre o dinheiro e os negócios no mundo. Não se trata de uma história de teoria da conspiração, mas a ganância, a avareza, o desejo pelo poder são os causadores de grandes estragos na vida de famílias inteiras e de nações. A História tem muito a nos dizer sobre isso desde que os impérios foram formados. O “amor” doentio pelo dinheiro e por controle é a causa de guerras, genocídios e de muitas atrocidades no mundo. A permissão governamental de aplicação de juros desmedidos e abusivos por contratos de todos os tipos, bancários ou de outra ordem, contra os seus cidadãos e a prática liberada de política de preços, deixando esse controle apenas pela concorrência dos setores, é sancionar a ação da avareza atingindo o fruto do trabalho das pessoas que ficam indefesas. É preciso lutar contra toda a forma de opressão monetária ou de sistema financeiro que amplie exponencialmente cada vez mais o abismo social entre pobres e ricos. Lutar contra a avareza ou ganância é procurar uma justa distribuição de renda e recursos entre todos os habitantes de um país. Sempre existirão ricos e pobres, é fato, mas as distancias devem ser diminuídas a cada geração.

 

Conclusão

O autor da carta aos hebreus encerra esta perícope declarando que não devemos temer os homens porque o Senhor Deus estará nos ajudando nestas lutas. Creio que ele afirma isso porque ao se empreender essas batalhas, o comum são as ameaças, o perigo pessoal e familiar que alguns podem sofrer e as acusações ou processos jurídicos injustos que podem recair sobre esses lutadores. Os verdadeiros culpados poderão buscar expor intimidades, erros, pecados antigos desses guerreiros da justiça e lançá-los ao vento da mídia na tentativa de desacreditá-los e de paralisar as ações contra eles. Só para citar um exemplo, na revista Época, uma reportagem sobre as irregularidades na Fundação Banco do Brasil, levou a administradora de empresas Maria Suely Fernandes, que denunciou essas irregularidades a sair de Brasília, morar em outro estado por causa de ameaças contra si e seu filho e viver com medo a ponto de não dar entrevistas sobre o assunto[8]. Esse muitas vezes é o preço que um lutador social vai pagar por se insurgir contra o sistema opressor, mas ele não está só, há outros, muitos outros que pensam iguais a ele e ainda pode contar com a ajuda de Divina para lhe dar força e coragem para continuar essas guerras.

 

© Carlos Carvalho

Teólogo, Cientista Social, Escritor, Jornalista, Pr. Sênior da Comunidade Batista Bíblica e Fundador da ONG ABAN Brasil.

 

Notas:

[1] Disponível em: http://www.mapadaviolencia.org.br/

[2] Divórcios no Brasil crescem mais de 40% em um ano, diz IBGE. Disponível em: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2012/12/divorcios-no-brasil-crescem-mais-de-40-em-um-ano-diz-ibge.html

[3] Novo modelo da família brasileira é discutido por especialista em Manaus. Disponível em: http://acritica.uol.com.br/manaus/Manaus-Amazonas-familia-brasileira-discutido-especialista-Manaus_0_982701759.html

[4] Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2013. PDF. Disponível em: http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/arquivos/anuario2013.pdf

[5] Mente que mata. Disponível em: http://super.abril.com.br/ciencia/mente-mata-442855.shtml

[6] Hedonismo. Teoria que declara que o prazer é o valor mais elevado do homem. Dicionário de Ética. Editora Vida. 2005. p. 82.

[7] A crise estrutural do capital e sua fenomenologia histórica. Disponível em: http://blogdaboitempo.com.br/2012/09/21/a-crise-estrutural-do-capital-e-sua-fenomenologia-historica/

[8] A fiscal que fiscalizava. Revista Época. n. 798 de 9 de setembro de 2013. p. 46

O Cristianismo - uma síntese histórica dos fundamentos da civilização ocidental

 

O CRISTIANISMO

Uma síntese histórica dos fundamentos da civilização ocidental

 

“Somente o Cristianismo é o fundamento máximo da liberdade, da consciência, dos direitos humanos e da democracia, os referenciais da civilização ocidental. Continuamos a nos nutrir desta fonte.”

Jürgen Habermas

 

A civilização ocidental foi edificada pelo Cristianismo. O problema não é que nossos jovens sabem muito sobre o Cristianismo, mas que eles sabem muito pouco. O Ocidente foi construído sobre dois pilares: Atenas e Jerusalém, das duas a mais importante é Jerusalém. A Atenas que conhecemos e amamos não é a que realmente era, mas sim, a Atenas vista pelos olhos de Jerusalém. Alguns acusam – como Edward Gibbon – que o Cristianismo substituiu a civilização clássica greco-romana pelo barbarismo religioso. Porém, não foram os cristãos que destruíram a civilização romana, foram os hunos, os godos, os vândalos e os visigodos que fizeram isso. Com o passar do tempo, o Cristianismo converteu e civilizou esses povos rudes.

O Cristianismo é responsável pelo modo de vida e pela organização de nossa sociedade. Até as muitas grandes obras das artes, como a capela Sistina, a Pietà de Michelangelo, a Última Ceia de da Vinci, o Cristo em Emaús ou Simeão no templo de Rembrandt, os murais espetaculares em Veneza de Veronese, Titian e Tintoretto, o Messias de Handel, o Réquiem de Mozart e a composição de Bach. O que dizer das catedrais góticas feitas com pedra e vidro, e as produções de Dante e Shakespeare. As grandes obras destes homens não teriam existido sem o Cristianismo.

 

“Se o Cristianismo não tivesse nascido do Judaísmo, é possível que ainda estivéssemos vivendo na Era das Trevas.”

Rodney Stark

 

“É possível que nenhum de nós fosse o que é hoje se um punhado de judeus há quase dois mil anos atrás não tivesse acreditado que haviam conhecido um grande mestre, que o haviam visto crucificado, morto e enterrado, e depois ressuscitado.”

J. M. Roberts

Não dá para imaginar nem nossos maiores céticos e ateus – como Voltaire e Nietzsche – sem o Cristianismo (Voltaire foi educado por jesuítas; o pai de Nietzsche era pastor e o título de sua autobiografia, Ecce Homo, é uma referência ao que Pilatos disse sobre Cristo: “Eis o homem”).


Mesmo a palavra “secular” – tão celebrada hoje em dia – é um termo cristão. Era usado para o catolicismo se referir ao modelo de vida dos sacerdotes em relação à sociedade. Havia os que se uniam a uma ordem “religiosa” e os que vivam na paróquia entre as pessoas comuns, e eram chamados de “secular”. O secularismo é uma invenção do Cristianismo e os valores seculares são seus produtos, mesmo que tenham sido separados de sua fonte original.


Portanto, os jovens ateus, céticos e secularistas deveriam ter mais respeito pelo Cristianismo e honrar suas origens e pressupostos, mesmo que não se convertam à nossa crença.

 

Casa de Sabedoria

#casadesabedoria

 

Fonte:

D’Souza, Dinesh. A verdade sobre o Cristianismo. Thomas Nelson Brasil: Rio de Janeiro, 2008. Do capítulo 5: Dêem a César: A base espiritual do governo limitado. p.61-75.

VIDA TRANSFORMADA